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Os meus amigos têm asas 📝👫🕊️

Texto originalmente publicado no Medium a 12 de Abril de 2021 

Os meus amigos voaram.
Uns foram viver para o outro lado do mundo. Foram estudar e ficaram para trabalhar. Fizeram outros amigos e criaram a sua família.
Outros estão aqui ao lado envolvidos no seu mundo. Trabalham e estão tão cheios de compromissos que, mesmo estando perto, surgem distantes na minha vida.

Os meus amigos voaram.
E parte de mim foi com eles. Foi-se a justa, a inteligente, a amiga, a engraçada e a ingénua. Ficou a emotiva, a defensora dos seus e que não deixa nada por dizer.

E depois voei eu.
Fui para outra cidade estudar, procurar outros amigos, outros amores, outra vida. Voei para viver sozinha, para estudar e para ser independente. Para construir o meu ninho e para aprender sozinha que um ninho vazio nunca é uma casa.

E depois voei de novo.
Desta vez para o outro lado do mundo à procura de um voo que me fizesse perder o medo de ter asas. E fui feliz. E fiz amigos e viajei e vivi. E aprendi que se nascemos com asas o melhor que temos a fazer é dar-lhes algum uso.

Mas também eu voei e os deixei. E regressei diferente porque os voos mudam-nos: gastam-nos as penas e deixam-nos cansados. Mas a vida segue a um ritmo alucinante e nem sempre temos tempo de reparar as asas partidas.

E, um dia, a vida atira-nos de um prédio para ver se ainda sabemos voar. E as asas partidas, por sarar, não dão de si. Embatemos na calçada com a mesma força com que a realidade nos dá uma chapada na cara.

E aí, nesse momento, é quando agradecemos aos nossos amigos por terem asas. Porque são esses que nos vão resgatar. E nos trazem presos no seu bico como cria ferida. Para um lugar seguro.

Os meus amigos têm asas. E sabem que servem tanto para ir como para voltar.

Há alturas da vida em que queremos grandes voos.
Há outras em que só queremos o calor do nosso ninho.
Somos aves migratórias em busca do calor que nos aquece o coração.

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