Texto originalmente publicado no Medium a 18 de Abril de 2021
Crescer, que significa tornar-se maior, aumentar, desenvolver-se, multiplicar-se. Crescer, que significa mais e às vezes sabe a menos. Crescer, que significa tanto e às vezes sabe a tão pouco.
Sempre pensei que crescer fosse adicionar camadas ao bolo que somos. Um dia uma camada de chocolate, docinha. No outro dia uma camada de limão, daquelas ácidas de fazer caretas. E no fim, as coisas balanceavam-se, equilibravam-se, como tudo na vida.
Eu não sabia que crescer era tirarem-te camadas. E não estava pronta para me tirarem um bocadinho da camada de red velvet que eu tanto gostava. Não estava pronta para me tirarem a minha parte preferida. Mas crescer é também perder partes de ti, nas batalhas culinárias. Crescer é aprender a viver sem aquele pedaço mesmo bom. Crescer é dar a volta e não comprometer o sabor do prato final porque te tiraram um pedaço doce.
Crescer é fazer bolos sem os ingredientes todos. É ganhar pedaços amargos, salgados ou ácidos porque a vida não tem só sabor a cacau. E também é mudar o recheio, adicionar uma camada ou uma decoração, muitas vezes apenas para fingir que está tudo bem, mesmo que o sabor esteja longe de estar no ponto.
Mas crescer é aprender a viver com a mudança. É aceitar que mudamos, para o bem e para o mal. É perder a receita e depois improvisar.
Crescer é esquecer de barrar a forma antes de ir ao forno e depois andar a tentar fazer magia com uma faca à volta do bolo para despegar o bolo daquilo que é acessório.
Crescer é estragar o bolo ao desenformar.
E mesmo assim comer porque o que importa é o sabor (e o interior).



