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Geografia do amor 📝🌍❤️

Texto originalmente publicado no Medium a 6 de Dezembro de 2022

Viajar é como Amar. Por altos e baixos, mais a Norte ou mais a Sul e sempre oscilando entre uma temperatura quente e um frio até aos ossos.

Passamos dias, meses e às vezes anos a sonhar com aquela viagem (com aquele amor). Temos tudo planeado: o orçamento (aquilo que estamos dispostos a dar), os sítios que queremos visitar (os objetivos em comum), o destino (também da vida) que temos a certeza ser consensual e, acima de tudo, a duração da viagem (queremos sempre que seja para sempre).

Fazemos as malas, embarcamos e o início da viagem é sempre lindo.

Deslumbrados pelas “primeiras vezes” juramos que é para sempre e que nunca sentimos nada assim. Partilhamos a viagem (e o amor) com todos aqueles que nos rodeiam e pode até chegar ao ponto de “enjoar”.

Depois passa a fase de lua de mel (que bom trocadilho, apreciem aí) e a coisa inevitavelmente fica mais tremida. Ao fim de alguns dias, ou semanas, a viajar (e a amar) começamos a ter menos tolerância para todas as coisas que ignorámos ao princípio, por ser novidade. As pequenas coisas começam a deixar-nos sem paciência e até a cama por fazer ou o monte de roupa suja é motivo de discussão. Sim, sem parêntesis, que neste caso dá para os dois lados.

Começamos a desejar voltar ao nosso sossego, começamos a duvidar de que estamos no lugar certo (na relação certa) e começamos a questionar-nos se os nossos companheiros de viagem (e da vida) ainda nos acrescentam. Queremos voltar à paz da nossa casa (e da nossa vida de solteiro).

E voltamos a fazer a mala, sempre a sentir que saímos com um peso extra, da falha, e que é isso que faz com que a mala vá mais cheia e não feche. Com o tempo percebemos que a viagem (e o amor) valeu a pena mas, a curta distância, temos ainda a frustração presente de pensar que as viagens (e os amores) deviam ser sempre bons e perfeitos, ilusão de corações que desvalorizam o peso de tudo o que se torna rotina.

E voltamos a casa. Voltamos à solidão.

E começamos a ser mais exigentes: nas viagens e no amor.

Já fomos a muitos sítios e já ficámos super impressionados. Começa a ficar cada vez mais difícil deslumbrarmo-nos, apaixonarmo-nos por um destino (e por alguém) com a mesma intensidade de antes. Evitamos destinos parecidos aos que não gostámos e tentamos escolher um que seja semelhante ao que nos fez bem. Tudo para perceber que cada destino (e amor) é único.

E começamos a não conseguir viajar apenas de mala às costas, levamos connosco cada vez mais bagagem, carregados de coisas (e feridas) que só fazem peso e cuja utilidade é aproximadamente zero. Mas não conseguimos ir sem elas, já fazem parte de nós.

E falta a paciência para ter as conversas todas de deslumbramento, falta a vontade de demorar tempo a planear, falta o desejo de estar meses a ansiar aquele dia. Chega uma altura em que queremos só o pacote da viagem (e do amor) já feito, com todas as coisas que procuramos e tudo incluído, porque só queremos ir. Só queremos chegar ao destino e sentimos que já não há tempo a perder.

E com todas estas exigências e critérios, podemos estar a perder um destino que não estava na nossa lista mas que pode acabar por mudar a nossa vida. E mudar-nos a nós.

É sempre esse o poder de viajar. E de amar.

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