Texto originalmente publicado no Medium a 30 de Janeiro de 2021
Quem me conhece sabe que sou um osso duro de roer, que sou muito teimosa e que quando tenho uma ideia na cabeça dificilmente a mudo. E sou assim com tudo: com as crenças que tenho, com os ideais que defendo e até com as pessoas que estão na minha vida.
Tem coisas boas: há quem lhe chame determinação, há quem diga que sou amiga dos meus amigos, há quem aprecie esta capacidade de ser sempre fiel ao que acredito e lutar de forma incansável.
Mas tem pontos negativos: custa-me admitir alguns erros (progressos ahn? olhem para mim aqui a admitir este), desgasto-me a remar sozinha contra a maré e fico triste com os meus amigos com frequência, a maioria das vezes por coisas sem sentido.
…
No outro dia, durante esta fase estranha de me ir tornando adulta (assim no gerúndio, que isto é coisa para demorar), descobri que tinha uma das luzes de marcha-atrás do carro fundida.
Mas que raio? Tenho o carro há menos de um mês e a luz já está fundida? Será que me venderam o carro já com a luz fundida e não reparei? Fogo, não pode ser. Vou ter de resolver isto…
Debati-me com isto durante vários meses, sempre com alguma chatice à mistura. Mas, como boa portuguesa (e adulta?) que sou, fui adiando até ter de ir à oficina. Ou, no fundo, até ter vontade.
Esta semana, foi a semana da revisão do carro da minha mãe pelo que tínhamos aqui a desculpa perfeita para ir “reclamar” e pedir que mudassem a luz. (Fui adulta e fiquei responsável por ir buscar a minha mãe à oficina. Depois esqueci-me completamente durante o dia e senti-me como aqueles pais que se esquecem dos filhos no infantário. Não julgo, estas cabeças de adulto sofrem de amnésia)
Chegámos lá e, muita prontamente, os mecânicos começaram a desmontar as peças para resolver o problema. Algo intrigados: estava difícil encontrar a lâmpada para trocar. Entretanto, chegou outro mecânico mais experiente e disse: “Estão à procura da segunda luz de marcha-atrás? Este modelo só tem uma luz de marcha-atrás”.
Que boa lição que eu precisava. Passei uns meses chateada com algo sem sentido nenhum, algo que estava solucionado, que não era um problema. A ignorância é mesmo tramada.
Que as luzes de marcha-atrás não estraguem os nossos dias.
Afinal os sensores continuam a funcionar. E isso é que é importante.
Para não bater em nada. Nem em ninguém.



