Título: Como escrever
Autor: Miguel Esteves Cardoso
Género: Não Ficção, Outros
Data de Lançamento: Julho 2024
Editora: Bertrand Editora
Páginas: 200
ISBN:9789722547109
Classificação: 3/5
Terminado em Fevereiro 2025
Wook: Como Escrever
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“Como Escrever” de Miguel Esteves Cardoso (MEC) vem a pedido de vários leitores, que ao longo dos tempos têm perguntado a MEC como escrever. Não é um livro técnico ou com instruções passo a passo. Visa descomplicar a ideia de escrever e dar o empurrãozinho que muitos precisamos.
Primeiro Capítulo
Primeiras Objeções
« Para pôr uma pessoa a escrever, basta apresentá-la a ela própria. »
Quando pensamos na ideia de começar a escrever, aparecem sempre muitas objeções, estamos sempre a tentar arranjar desculpas. « Achamos sempre fácil aquilo que os outros já fizeram: porque está feito ». Achamos também que alguns nascem mesmo com um dom diferente, que talvez escrever não possa ser ensinado. Mas estamos enganados. « É uma facilidade que se ensina, precisamente porque nasce da experiência».
« A vida acontece-nos, mas quando escrevemos passa a ser o que escrevemos que acontece à vida. »
Como Começar
Esta é a pergunta que todos fazemos e cuja resposta procuramos, como se procurássemos um receita passo a passo. O primeiro ponto é não nos preocuparmos com a qualidade da nossa escrita, porque afinal, é sempre subjetiva e avaliada por outros e não por nós. A qualidade do que escrevemos está fora das nossas mãos. O que está ao nosso alcance é bem mais simples: escrever.
A Coisa Prática
« Para ter alguma coisa para dizer, não se pode falar. É preciso guardá-la».
Arranjar uma Coisa para Dizer
A Primeira Oportunidade
« A inspiração é como ganhar a lotaria: não se pode contar com isso. É preciso um emprego na mesma (…) Eis a característica mais importante de escrever: escrever puxa pela escrita ».
A Razão Teórica
Ao mundo convém esta nossa inércia de escrever. Convém que sejamos os compradores de livros como este mas nunca os seus autores. Somos feitos para consumir. Talvez nos tenham vendido a ideia de que apenas quem tem talento deve escrever, como se apenas esses tivessem direito a esta coisa tão bonita que é a arte.
A Originalidade
« A originalidade que lhe interessa tem a ver com a origem.
A origem é você
(…) Você é o tema da sua vida. »
Uma Confusão Frequente
« O criminoso conta sempre a história melhor.
Por isso é que o impedem de falar.
Por isso é que falam por ele.
(…) Não deixe que outros tentem exprimir a sua alma. »
As Ocorrências e a Dificuldade dos Apontamentos
Todos os dias nos ocorrem pensamentos que podiam ser a semente ideal para um novo texto ou rascunho mas achamos sempre que não valerá apontar, porque a ideia é tão boa que iremos lembrá-la mais tarde, erro! « É uma coisa que volta a desaparecer com a mesma naturalidade com que apareceu. » E, por isso, o melhor que temos mesmo a fazer é tentar apontar todas as ideias que nos ocorrem e deixar o julgamento das mesmas para um momento posterior.
Correr e Escrever
Para escrever é preciso ganhar não só o hábito de escrever mas o vício. Toda a gente consegue começar a correr mas o objetivo é não se ficar pelo princípio.
E, no entanto, os principiantes escrever como mijam: quando lhes apetece.
(…) Escrever é como correr. Não interessa aonde se quer chegar. »
O Jejum
(…) Durante o jejum está a apanhar lenha para a fogueira de amanhã.
Não a queime já.
(…) O jejum cria balanço. »
Somos criaturas de hábitos e o nosso corpo habitua-se e quer o hábito mais do que às vezes parecemos compreender. Criar uma rotina e horas específicas de escrita vai criar um entusiasmo próprio do jejum.
« Depois de escrever, como depois de sonhar, sentimo-nos nus, e limpos, e prontos para outra. (…) As noites são para sonhar, as manhãs são para escrever. »
Os Primeiros Escritos
« Escrever é deixar recado. »
Os primeiros escritos são sempre algo que tememos pela vulnerabilidade que ato representa. Escrever deixa-nos a nu.
Temos neste capítulo um pequeno resumo das fases necessárias para se escrever:
- Esvaziar a cabeça
- Estar atento aos pensamentos e ocorrências
- Apontar as ocorrências
- Escrever a partir das ocorrências
- Editar a primeira redação.
Sugestões Práticas
« É uma atividade que é preciso proteger. »
- O maior objetivo deve ser sempre escrever, continuar a escrever. E nunca escrever só para despachar. O objetivo é apaixonamo-nos pelo hábito de escrever.
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« Mas aquilo que os bons (e maus) escritores têm em comum não é essa sorte genética: é terem passado anos e mais anos a escrever. »
- Deve sempre começar-se por escrever coisa pequenas, frases, postais, parágrafos. Se dá ou não um livro é algo que não interessa agora.
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« Escrever é ir à procura de quem está à procura de nos ler. »
« Faz sentido correr apenas quem acha que pode ganhar um troféu e ir para à biblioteca dos campeões? Faz sentido desistir quando se percebe que nunca se vai ser suficientemente rápido para ser o primeiro, o segundo ou o terceiro?
O mundo também se divide ente quem corre e quem não corre.
(…)
O corredor profissional só corre mais depressa e durante mais tempo. Mais nada.»
Opinião
Não acho que este livro tenha a forma infalível para escrever. E acho que foi precisamente esta a intenção do autor. Não existe uma fórmula mágica, um talento único que herdamos ou pré-requisitos para se escrever. Qualquer um o pode fazer, seja qual for a sua intenção. Escrever é apenas pôr em papel o que pensamos, desejamos ou sonhamos. Não tem de ser nada mais, não tem de ter um objetivo como publicar ou ser reconhecido. Escrever é para nós e para quem gosta de nós. E escrever tem de ser um hábito, como lavar os dentes. Que é saudável e higiénico para os nossos pensamentos. E que, se não for feito todos os dias ou na sequência certa, perde a sua força, tal como um medicamento que perde o seu efeito se não tomado na sua forma perfeita.
Dá um empurrãozinho simpático para nos deixarmos de desculpas e voltarmos a escrever.
E aqui estou eu a fazê-lo.



