Título: Em defesa do capitalismo – Um antídoto para os mitos anticapitalistas
Autores: Rainer Zitelmann
Género: Não Ficção, Gestão e Economia
Data de Lançamento: Outubro 2022
Editora: Alêtheia Editores
Páginas: 402
ISBN: 9789899077669
Classificação: 5/5
Terminado em Dezembro 2023
Wook: Em defesa do capitalismo – Um antídoto para os mitos anticapitalistas
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Um livro que examina as dez acusações mais apontadas ao capitalismo e, com factos e dados históricos, desfaz todos argumentos, provando que o que falhou foram todas as experiências anticapitalistas dos últimos 100 anos.
O capitalismo é muitas vezes visto como a fonte de todos os males apesar de ser o sistema económico mais bem sucedido da história. No livro “Em Defesa do Capitalismo,” Rainer Zitelmann desafia as perceções negativas e mitos que cercam esse sistema, apresentando argumentos sólidos e explorando alternativas, sempre com base no que a história nos ensinou.
Deixo-vos um resumo por parte e capítulo.
PARTE A: Os 10 maiores mitos anticapitalistas
Mito 1: O capitalismo é responsável pela fome e pobreza
- «Em 1820, antes da emergência do capitalismo, a maioria das pessoas do mundo (90%) viva em pobreza extrema, hoje este valor está nos 10%».
- Acho interessante fazer aqui um paralelismo com outro livro que também é referido por Rainer – Factfulness, de Hans Rosling, Ola Rosling e Anna Rosling Ronnlund – que nos mostra duas coisas: 1) a nossa perceção sobre o mundo está muito longe da realidade e 2) o mundo está muito melhor do que achamos.
- «Em 1981, 88% da população chinesa vivia em extrema pobreza; atualmente, é menos de 1%. Nunca na história do mundo tantas centenas de milhões de pessoas passaram da pobreza abjeta para a classe média num período tão curto.» Este acontecimento deve-se, sobretudo, ao facto de, após a morte de Mao Tsé-Tung, a China ter começado a adotar princípios do capitalismo.
- «No século XX, 80% de todas as vítimas da fome morreram na China e na União Soviética», países que não tinham políticas capitalistas na altura.
Mito 2: O capitalismo conduz a uma desigualdade crescente
- Se tivermos em mente que a riqueza é algo que os indivíduos produzem, não há razão para aderirmos à «ideia pouco convincente de que só a igualdade pode ser justa.»
- As grandes fortunas dos ricos estão, na grande maioria, associadas a ativos empresariais e produtivos. Não são pessoas que vivem de rendimento passivo mas sim empresários, que ficaram ricos porque tiveram ideias inovadoras e que contribuem para a economia e crescimento.
- «A nível mundial, a desigualdade não aumentou nos últimos anos; diminuiu significativamente.»
- Para além disso, é uma falácia afirmar que os ricos estão cada vez mais ricos, uma vez que esta afirmação ignora a mobilidade social, ou seja, os 10% mais ricos do início do século dificilmente serão os mesmos no fim do século (ou descendentes), com base em factos históricos.
- Um pouco mais controversa é também a opinião de que o próprio estado pode ser uma fonte de desigualdade, bem como a sua excessiva intervenção, por exemplo: «os esquemas públicos de reforma, saúde e outros benefícios reduziram os incentivos e a capacidade das famílias não ricas acumularem poupanças, o que, por sua vez, contribuiu para aumentar a desigualdade de riqueza.»
Mito 3: O capitalismo é responsável pela destruição do ambiente e pelas alterações climáticas
- Há mais de 20 anos que a Universidade de Yale estuda e publica o Índice de Desempenho Ambiental (IDA) e «os investigadores consideram que existe uma clara correlação positiva entre o desempenho ambiental e o PIB per capita». Inclusive, o relatório do ano 2020 afirma que «uma das constantes lições do IDA é que a sustentabilidade só se alcança com prosperidade económica suficiente para financiar infraestruturas públicas ao nível da saúde e do ambiente.»
- As pontuações mais elevadas do IDA são dos países com níveis mais elevados de liberdade económica.
- «Foram alguns dos mais entusiastas defensores do capitalismo quem resolveu um dos maiores problemas ambientais de sempre à escala mundial, o “buraco na camada de ozono”.» Depois da descoberta de que os clorofluorocarbonos (CFC) eram os principais responsáveis pelo buraco na camada de ozono, Ronald Reagan e Margaret Thatcher foram quem tomou a iniciativa a nível mundial que culminou no Protocolo de Montreal.
Mito 4: O capitalismo provoca sucessivas crises económicas e financeiras
- Em primeiro lugar é importante distinguir entre dois tipos de crises: 1) as crises que resultam de ciclos económicos normais e 2) as crises com raízes na relação entre o Estado e a economia, sendo que são as segundas que mais tendem a preocupar-nos.
- Apesar de também um pouco controverso podemos ver um lado positivo das crises capitalistas, uma vez que «fortalecem a economia a médio e longo prazo, porque as empresas improdutivas são varridas do mercado.»
- É ainda importante relembrar a história e partilhar que «não foram os “mercados com rédea solta” que causaram a crise das hipotecas de alto risco – subprime – mas sim as quotas governamentais com fins políticos e sociais, auxiliadas pelas baixas taxas de juro da Reserva Federal.»
- Aproveito para fazer um paralelismo com outro livro que li e partilhei convosco: Trancas à Porta de Carlos Guimarães Pinto, Juliano Ventura, André Pinção Lucas e Filipa Osório que explica também o impacto das baixas taxas de juro (resultado da intervenção dos bancos centrais na economia) nos preços das rendas, casas e, claro, nos empréstimos.
- «Uma crise que é essencialmente causada pela intervenção do governo e dos bancos centrais é assim reinterpretada, para a opinião pública, como uma crise de capitalismo.»
Mito 5: O capitalismo é dominado pelos ricos; são eles que ditam a agenda política
- «Se os ricos fossem assim tão omnipresentes e estivessem a reforçar cada vez mais a sua influência sobre o poder, seria de esperar que estivessem muito satisfeitos com os recentes desenvolvimentos políticos.» E ainda, sabendo que as despesas sociais com educação, saúde, habitação e infra estruturas têm sido o foco da maioria dos governos ocidentais, poderemos questionar-nos se as “grandes empresas”, que em teoria definem a agenda política, não teriam prioridades um pouco diferentes.
- É ainda de ressalvar que a agenda política só é influenciada por agentes externos se esta for maleável e influenciável em primeiro lugar. «Quanto mais o Governo intervém na vida económica, mais oportunidades há para subornar os seus funcionários.» Mais, convém partilhar também que «aqueles que querem limitar a influência dos ricos deveriam, antes de mais, limitar o poder do Governo e da classe política. A verdade é que só quando o Governo reforça o seu controlo sobre a distribuição dos recursos económicos é que os ricos ficam mais propensos a tentar ganhar influência ou mesmo subornar os políticos.»
- «Os países com os níveis de corrupção mais baixos são os mesmos países que têm altos níveis de liberdade económica.»
Mito 6: O capitalismo leva a monopólios
- A posição aparentemente dominante e monopolista de algumas empresas é muito mais instável e frágil do que podemos pensar à primeira vista.
- «Concorrência e monopólio não são absolutos opostos, mas são uma contradição dialética: a concorrência cria o monopólio, porque estimula a prevalência do melhor produto. Aí, os elevados lucros monopolistas atraem novos concorrentes, que gradualmente destroem o monopólio, mas a certa altura podem eles próprios tornar-se temporariamente um monopólio, apenas para virem a ser também destruídos pelos seus concorrentes.»
- A Nokia foi o maior fabricante mundial de telemóveis de 1988 a 2011, sendo apenas ultrapassada pela Samsung em 2012. «E o que é espantoso é ter sido a Nokia a desenvolver o primeiro smartphone do mundo nos anos 90 “mas só se deu conta da importância das apps para tornar o telefone mais apelativo quando era demasiado tarde”.» Outros exemplos bem conhecidos são a da Xerox (primeira fotocopiadora) e a Kodak (películas fotográficas) que começaram com monopólios que foram destruídos pela inovação da concorrência.
- Por outro lado, a posição dominante de algumas empresas acaba por ser a sua principal razão para continuarem a apostar na inovação e manterem o seu lugar dianteiro na corrida do mercado.
- «O Governo é muito mais um culpado do que um solucionador de problemas, não só por se tornar frequentemente um monopolista, mas também por a sua regulamentação excessiva favorecer o surgimento de monopólios ou oligopólios em certos setores.»
Mito 7: O capitalismo promove o egoísmo e a ganância
- Por mais que possa parecer forte pôr as coisas desta forma, «o lucro é e continuará a ser o único critério para o sucesso e a viabilidade sustentáveis de uma empresa» ,isto é, o interesse individual de uma empresa. Isto não se traduz necessariamente em algo negativo porque, se pensarmos bem, «não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse.»
- As empresas (e o seu lucro) são muitas vezes vistas com egoísmo e ganância porque falta entender dois conceitos: 1) uma empresa que não tem lucro não tem condições para continuar no mercado nem para investir em inovação e 2) a vida económica não funciona como um jogo de soma nula e a «crença de que o ganho de uma pessoa tem de ser a perda de outra» está errada. «Mas não é assim que o capitalismo funciona. O comércio e os ganhos de produtividade aumentam o tamanho da tarte. Quando a economia cresce, são muitas as pessoas que beneficiam.»
- Claro que também há empresas que podem agir de uma forma excessivamente egoísta, «mas, no capitalismo, estas empresas são punidas – pelo mercado. (…) Todos os dias os clientes votam numa empresa – comprando ou não os seus produtos.»
- «O que o capitalismo não pode oferecer às pessoas é um sentido para as suas vidas e uma promessa de felicidade. Uma pessoa deve ser livre de lutar pela felicidade, mas, se a alcança ou não, não é da responsabilidade do sistema económico. (…) nem toda a gente adora a liberdade e a responsabilidade individual. Muitos acham mais fácil quando é o sistema a oferecer-lhes um propósito.»
Mito 8: O capitalismo incita as pessoas a comprar produtos de que não precisam
- «O capitalismo é um sistema livre e democrático, no sentido em que deixa às pessoas a decisão sobre o que precisam ou não precisam.»
- Pode argumentar-se que há alguma pressão para se comprar ou ter alguns bens, mas será este um problema do capitalismo ou um problema ideológico e comportamental da sociedade e da educação da mesma?
- Para além disso, «nos séculos passados, a maioria das pessoas em todo o mundo era indigente e, por isso, só conseguia comprar o absolutamente indispensável para viver» não haverá aqui algo positivo no facto das pessoas poderem escolher como gastar o seu dinheiro que sobra das coisas indispensáveis e poderem, efetivamente, comprar algo que não precisam?
- «A imagem do consumidor mentecapto a ser seduzido por anunciantes engenhosos para passar o dia inteiro a comprar coisas desnecessárias é um enorme exagero», e acaba por nos descredibilizar enquanto consumidores e decisores.
Mito 9: O capitalismo conduz a guerras
- «As guerras eram muito mais comuns na era pré-capitalista – grosso modo, antes do início do século XX – do que na era capitalista.»
- Pode argumentar-se que o capitalismo resulta em menos guerras uma vez que «Estados que se encontram estreitamente ligados pelo comércio são muito menos suscetíveis de se envolverem em conflitos militares entre si.»
- Apesar das decisões sobre guerra e paz não serem tomadas pelas empresas e empresários capitalistas, mas sim por políticos e Estados, são frequentemente levantadas questões sobre o seu envolvimento ou influência no processo que conduz ao deflagrar de uma guerra, que são refutadas pelo autor.
- É ainda de ressalvar que 1) «a Primeira Guerra Mundial destruiu a primeira era de ouro da “globalização” económica», 2) «a Primeira Guerra Mundial levou a um aumento significativo dos impostos cobrados a indivíduos com alto rendimento ou avultado património» e ainda 3) «a riqueza dos ricos foi drasticamente reduzida nas duas guerras mundiais» pelo que não aprece haver qualquer motivo para empresários quererem uma guerra ou sequer lucrarem com isso.
- Vou ainda deixar um pequeno apontamento resumo sobre a Segunda Guerra no Iraque, baseado no livro. Esta costuma ser trazida para a discussão sob o argumento de que as empresas americanas procuravam o controlo do petróleo. Há que reconhecer que 1) a Arábia Saudita teria sido um alvo mais fácil porque tem maiores reservas de petróleo e é menos fortemente armada que o Iraque e 2) «não há provas de que os Estados Unidos tenham feito qualquer tentativa, durante ou após a ocupação, de atribuir às empresas americanas uma posição privilegiada na indústria petrolífera iraquiana» pelo que o que foi apurado foi que «a principal razão para a guerra era a de os Estados Unidos quererem estabelecer um precedente ao demonstrarem o seu poderio militar», na sequência do 11 de setembro.
Mito 10: O capitalismo significa que há sempre o perigo do fascismo
- Um dos maiores argumentos neste sentido prende-se com a “lenda” de que Hitler e o seu partido foi fortemente apoiado e financiado por empresários, sob a tese (errada) de que «o fascismo era uma forma de governo dominada pelo capital financeiro.»
- Ficou provado (com investigações) que «o dinheiro das grandes empresas movia-se esmagadoramente contra os nazis (…) após a nomeação de Hitler (…) vastos setores da comunidade empresarial reagiram como muitos alemães: com oportunismo.»
- Por outro lado, Hitler e o fascismo partilham algumas características doutros sistemas socialistas-totalitários, como a intervenção estatal. «O ditador alemão mencionou várias vezes (…) que era preciso nacionalizar as grandes sociedade anónimas, a indústria energética e todos os outros ramos da economia que produziam “matérias-primas essenciais”» ideias estas que são um tanto opostas à liberdade económica e sistema de mercado propostas pelo capitalismo.
PARTE B: Alternativas anticapitalistas
1924 | União Soviética, Estaline
- «O pano de fundo da política de coletivização era o objetivo de Estaline de industrializar a Rússia à força.»
- Seguiram-se, como sabemos, os campos de concentração e de trabalho e «o regime que propusera libertar os trabalhadores, estava a tornar-se cada vez mais um sistema de trabalho forçado e de dominação. Não havendo incentivos económicos como os que existem no capitalismo, o processo de industrialização só podia ser levado a cabo com recurso à força mais brutal.»
- Importante também referir que, quando a produção agrícola entrou em colapso, Estaline concedeu pequenos lotes para propriedade privada e os resultados foram os seguintes: «Embora os terrenos de uso privado representassem menos de 5% do total de terrenos agrícolas (…) forneciam mais de 70% das batatas, cerca de 70% do leite e perto de 90% dos ovos.»
- É ainda de salientar que «nos distritos agrícolas à volta de Moscovo, a taxa de mortalidade aumentou 50% entre janeiro e junho de 1933. No início da década de 1930, houve mais 6 milhões de mortos do que o habitual e cerca de 300 000 pessoas morreram durante as deportações.»
1950 | China, Mao Tsé-Tung
- «Em 1958, teve início a maior experiência socialista da história da humanidade, o Grande Salto em Frente de Mao.»
- As terras foram redistribuídas pelos mais pobres e os ricos foram humilhados, despojados e até assassinados. «Ao tornar a maioria um cúmplice no assassinato de uma minoria cuidadosamente definida, Mao conseguiu ligar permanente o Povo ao Partido.»
- Durante este período morreram, ao todo, 45 milhões de pessoas, de fome ou assassinadas.
- Há muitos relatos horríveis do que se passou neste período, sendo que até pessoas vivas foram enterradas. Eventualmente a fome passou a ser um problema inegável e Mao acabou por permitir alguma propriedade privada e foi a partir daí que «uma economia clandestina floresceu nos interstícios das comunas. Havia fábricas clandestinas, equipas de construção clandestinas, serviço de transporte clandestino.»
- Aqueles que permaneceram na comunas viam que quem desobedecia tinha uma vida muito melhor e grandes mercados ilegais surgiram por todo o país no que foi uma «revolução acidentada, irregular, vinda de baixo, que foi sobretudo silenciosa, mas que acabaria por abarcar todo o país.»
1975 | Camboja, Khmers Vermelhos, Pol Pot
- Inspirado no Grande Salto em Frente de Mao, Pol Pot chamou esta experiência de Super Grande Salto em Frente.
- O principal objetivo era uma forma puritana de comunismo primitivo e «tinham elaborado um Plano Quadrienal detalhado que enumerava com precisão todos os produtos de que o País iria necessitar (agulhas, tesouras, isqueiros, chávenas, pentes, etc).»
- Criaram um plano agrícola uniformizado para todas as regiões do país com métodos de cultivo padronizados com a ideia de que «a natureza seria domada para servir a realidade utópica de uma ordem totalmente coletivista que eliminasse a desigualdade logo a partir do primeiro dia.» Também parte do plano foi a evacuação de todas as pessoas das cidades, a abolição de todos os mercados e a abolição do dinheiro. Resultou em fome, rapidamente.
- De 1975 a 1979, entre um quinto e um quarto da população do Camboja morreu, ou seja entre 1,6 a 2,2 milhões de pessoas.
- «Pol Pot e os seus camaradas acreditavam que da igualdade total resultaria uma sociedade justa e feliz. Tinham obrigação de saber que não, sobretudo depois do Grande Salto em Frente de Mao, na China.»
PARTE C: Perceções das opiniões públicas a respeito do capitalismo
O que pensam as pessoas em Portugal a respeito do capitalismo?
- As pessoas em Portugal associam a palavra capitalismo a coisas negativas e esta associação é mais acentuada à esquerda do que à direita do espectro político, sem surpresas. A opinião pública, no geral, em Portugal é dominada pelo anticapitalismo.
- O uso da palavra “capitalismo” tem pouco impacto: «as atitudes anticapitalistas são predominantes mesmo quando a palavra “capitalismo” não é utilizada» nas questões do inquérito.
- «As atitudes negativas face ao capitalismo dominam claramente em todas as idades.»
- «As pessoas com baixos rendimentos (…) são mais céticas em relação ao mercado e mais favoráveis a um Estado forte.»
- As mulheres em Portugal são mais céticas em relação à liberdade económica e a são a favor de um papel forte do Estado, comparando com os homens.
O que se pensa a respeito do capitalismo na Europa, nos Estados Unidos, na América do Sul e na Ásia?
- «A aprovação do capitalismo nos Estados Unidos aumenta 51% quando a palavra “capitalismo” é omitida.»
- Apesar de, como mostrado acima, o uso do termo “capitalismo” poder afetar a perceção das pessoas, «a rejeição do capitalismo está longe de se dever apenas a esta palavra claramente impopular».
- «No Japão e na Coreia do Sul, dois países onde os inquiridos tendem geralmente a ser mais pró-capitalistas, mesmo os inquiridos que se classificam como de extrema esquerda não são veemente anticapitalistas, mas sim neutros.»
- Há ainda um dado curioso, em 11 dos 22 países inquiridos surge o seguinte resultado: «quem é de direita moderada tem a atitude mais positiva em relação ao capitalismo, enquanto os inquiridos situados ainda mais à direita são menos favoráveis ao capitalismo». Isto acontece em países como o Brasil, Grã Bretanha, Itália, Rússia, Alemanha e França sendo que em Portugal não há praticamente diferenças entre direita moderada e extrema.
- Há países onde a idade quase não influencia a visão sobre o capitalismo enquanto noutros surge uma ligação bastante clara como nos «Estados Unidos, onde os inquiridos com mais de 60 anos de idade têm uma atitude muito positiva em relação ao capitalismo enquanto nos mais jovens é neutra ou ligeiramente negativa.»
- «Não é de estranhar que, em todos os países, quem tem rendimentos baixos tenda a ser anticapitalista ou, quanto muito, neutro, e quem aufere rendimentos elevados seja comparativamente mais favorável (ou menos contrário) ao capitalismo.»
- «Em quase todos os países (exceto na Coreia do Sul e na Rússia), os homens são mais favoráveis ao capitalismo (ou, pelo menos, não tão críticos) do que as mulheres.»
- «Em 19 de 22 países, as diferenças entre pessoas com educação básica e as que têm educação superior apontam sempre na mesma direção: as pessoas com um nível de educação mais elevado têm uma atitude (ligeiramente) mais favorável ou menos negativa em relação ao capitalismo.»
- «Em todos os países – sem exceção – constata-se que os anticapitalistas são muito mais propensos a subscrever teorias da conspiração do que os pró-capitalistas. Análise demonstra claramente o forte elo existente entre as atitudes anticapitalistas e as teorias da conspiração. A consistência deste resultado é espantosa.»
Conclusões
- É claro o fosso entre os factos e as opiniões e perceções das pessoas face ao capitalismo. «Torna-se evidente que o anticapitalismo não tem a ver com razão ou racionalidade – é, acima de tudo, uma rejeição emocional.»
- «O capitalismo responde à questão de saber como é que as pessoas podem organizar as sua relações económicas de modo a “conseguirem bens e serviços suficientes a preços razoáveis”, assegurando assim uma boa vida ao maior número de gente possível (…) o capitalismo não dá sentido à vida das pessoas e não pretende fazê-lo. Não promete nem a abolição da desigualdade nem a solução de todos os problemas terrenos; não é utópico e não promete nenhum paraíso, seja neste, ou noutro mundo.»
- O anticapitalismo assenta numa crença comum: «a crença de que cabe ao Estado resolver todo e qualquer problema, porque os políticos e os funcionários públicos sabem mais do que o mercado, ou seja, mais do que todos os que individualmente participam na economia.»
- «O capitalismo não carece de ser melhorado por intelectuais; ele está constantemente a autocorrigir-se e a melhorar-se (…) A essência do capitalismo reside no facto de ele ser um sistema capaz de aprender.»
- «A crise – provocada por novas intervenções governamentais cada vez mais violentas – e o fracasso do Estado irão então parecer às pessoas um fracasso do mercado e um fracasso do capitalismo.»



