Título: Essa dor não é tua
Autor: Mark Wolynn
Género: Não Ficção, Desenvolvimento Pessoal
Data de Lançamento: Abril 2023
Editora: Albatroz
Páginas: 272
ISBN:978-989-739-220-7
Classificação: 4/5
Terminado em Junho 2024
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“Essa Dor Não É Tua” de Mark Wolynn é um livro que explora como os traumas familiares podem ser transmitidos de geração em geração e afetar a vida de indivíduos que nem sequer viveram os eventos traumáticos originais, influenciando a sua saúde mental e física. O autor, especialista em terapia de constelação familiar, partilha exercícios para identificar e curar essas feridas intergeracionais.
PARTE 1: A TEIA DO TRAUMA FAMILIAR
Esta primeira parte do livro foca-se numa introdução mais teórica sobre o tema, com bastantes referências a pesquisas, livros e casos de estudo, bem como exemplos reais que sustentam as teorias e resultados obtidos.
Capítulo 1: Traumas perdidos e achados
« O passado nunca morre. Nem sequer é passado.» William Faulkner, Requiem por uma Freira
Explora a ideia de herança emocional e trauma. Os traumas passados podem ser transmitidos através de comportamentos, emoções e até genética. Baseado na sua experiência profissional, consegue também partilhar vários exemplos e estudos de caso que o provam. Por exemplo, « Yehuda e a sua equipa descobriram que os filhos de sobreviventes do Holocausto que tinham SPT (síndrome pós traumático) nasciam com baixos níveis de cortisol, semelhantes aos dos pais, predispondo-os a reviver os sintomas de SPT da geração anterior.» levando ainda concluir que « os descendentes dos sobreviventes de trauma carregam os sintomas físicos e emocionais de traumas que não experienciaram diretamente.»
« (…) É provável que continuemos a repetir os nossos padrões inconscientes até os trazermos para a luz da consciência. »
Capítulo 2: Três gerações de história familiar partilhada: o corpo familiar
Biologia Celular
O stress pode causar mudanças no nosso ADN, que é depois transmitido aos nossos descendentes. Ainda, « (…) uma criança que tenha tido um ambiente intrauterino stressante pode tornar-se reativa numa situação igualmente stressante. »
Epigenética
A epigenética estuda as mudanças hereditárias na função genética que acontecem sem alteração no ADN. « (…) os cientistas descobriram que o ADN cromossómico – o ADN responsável por transmitir características físicas, como a cor dos olhos (…) constitui, surpreendentemente, menos de 2% do nosso ADN total. Os outros 98% consistem no chamado ADN não codificante (ncADN), sendo responsáveis por muitos dos traços emocionais, comportamentais e de personalidade que herdamos. ». Isto significa também que descobriram ainda « (…) que os genes retêm alguma memória das suas experiências passadas. ». Tudo é ainda comprovado através de um estudo de caso realizado em 2005 que trouxe à luz a ideia de que « (…) os padrões de stress se transferem, de facto, das mulheres gravidas para os seus filhos.. ».
- Exemplo 1 : « O histórico estudo realizado por Yehuda , em 2005 (…). As mulheres grávidas (no segundo ou terceiro trimestre) que estavam no World Trade Center, ou nas suas proximidades, durante os ataques do 11 de Setembro, e que posteriormente desenvolveram SPT, deram à luz filhos com baixos níveis de cortisol. (…) Quando os níveis de cortisol são afetados, o mesmo acontece à nossa capacidade de regular emoções e gerir o stress. »
- Exemplo 2 : « (…) os judeus que tinham sofrido traumas durante o Holocausto e os seus filhos partilhavam um padrão genético similar. Nomeadamente, encontraram marcadores epigenéticos na mesma exata parte do gene, tanto nos pais como nos filhos. Compararam os resultados com famílias judaicas que estavam a viver fora da Europa durante a guerra e determinaram que as mudanças genéticas nos filhos só podiam ser atribuídas ao trauma experienciado pelos pais. »
Herança Epigenética
- O trauma como o stress de separação materna causava modificações de genes com impacto em até três gerações.
- O trauma de separação materna causou sintomas semelhantes aos de depressão nos descendentes que se agravaram com o envelhecimentos dos ratos. Mais ainda, alguns dos machos não exibiam estes comportamentos mas transferiam-nos às fêmeas da sua descendência.
- « (…) os descendentes que recebiam baixos níveis de cuidado materno eram mais ansiosos e reativos ao stress na idade adulta do que os ratos que recebiam altos níveis de cuidado materno. »
- « (…) os sintomas de trauma podiam ser revertidos nos ratos depois de estes viverem num ambiente positivo e de baixo stress em adultos. Não só o comportamento dos ratos melhorou, como sofreram também mudanças na metilação de ADN, o que impediu que os sintomas fossem transmitidos à geração seguinte. »
Capítulo 3: A mente familiar
A mente familiar
A mente familiar é um conjunto de crenças, comportamentos e padrões emocionais que são passados de geração em geração, « Em termos simples, recebemos aspetos do cuidado maternal da nossa avó através da nossa própria mãe. »
Consciência familiar
« A crença de que herdamos e revivemos aspetos do trauma familiar (…) A repetição de um trauma nem sempre é uma réplica exata do evento original. » e ainda « Os filhos mais novos parecem muitas vezes, ainda que não sempre, sair-se um pouco melhor do que os primeiros filhos ou filhos únicos, que parecem carregar uma parte maior dos assuntos inacabados da história familiar. »
Imagens curativas e o nosso cérebro
O autor enfatiza o poder do nosso cérebro em enraizar determinados comportamentos uma vez que « sempre que repetimos uma experiência específica, esta torna-se mais enraizada em nós. Se a repetirmos o suficiente, pode tornar-se automática. »
Capítulo 4: A abordagem da linguagem nuclear
Linguagem nuclear são as expressões verbais dos traumas passados, visto que « quando fragmentos de traumas passados se reproduzem dentro de nós, deixam pistas na forma de palavras e frases emocionalmente carregadas que muitas vezes nos levam de volta a traumas por resolver. »
Memória inconsciente
« As experiências traumáticas são muitas vezes armazenadas como memória não declarativa. Quando um acontecimento se torna tão avassalador que nos deixa sem palavras, não podemos registar ou declarar de forma precisa a memória em forma de história, o que exige linguagem.» Quando não conseguimos pôr em palavras o que sentimos, as experiências ficam por declarar e insistem em repetir-se, e vivem em nós e em tudo o que nos rodeia.
Linguagem nuclear e recuperação de memória
A linguagem nuclear ajuda-nos a declarar estas memórias, permitindo reconstruir os eventos. « Uma vez localizada a sua origem no passado, no nosso trauma ou num trauma familiar, podemos parar de as viver como se pertencessem ao presente. »
« As palavras intensas ou urgentes que utilizamos para descrever os nossos medos mais profundos – é essa a nossa linguagem nuclear. »
Capítulo 5: Os quatro temas inconscientes
O fluxo da vida
« (…) quando a ligação que temos aos nossos pais flui livremente, sentimo-nos mais abertos e receber o que a vida nos envia. Quando essa ligação aos nossos pais está, de algum modo, comprometida, a força vital à nossa disposição pode parecer limitada. »
Quatro temas inconscientes que interrompem o fluxo da vida
- Fundimo-nos com um dos nossos pais: muitos de nós acabam por assumir inconscientemente a dor dos seus pais e podemos repetir ou reviver algumas situações para fazer esta ligação.
- Rejeitámos um dos nossos pais: « Quando rejeitamos os nossos pais, não conseguimos ver os aspetos em que somos semelhantes » e podemos atrair relações e parceiros que têm os comportamentos que rejeitamos.
- Experienciámos uma quebra na ligação inicial à nossa mãe: sabemos que os sentimentos negativos ficam mais gravados que os positivos e esta quebra de ligação « pode também traduzir-se na decisão de não ter filhos. »
- Indentificámo-nos com um membro do nosso sistema familiar que não os nossos pais: nem todos os comportamentos que expressamos têm origem em nós e podemos estar a carregar sentimentos que pertencem a outros familiares.
PARTE 2: O MAPA DA LINGUAGEM NUCLEAR
A segunda parte do livro foca-se numa técnica mais prática para nos guiar a descobrir as dores que não nos pertencem, a identificá-las e a descobrir de onde surgiram.
Capítulo 6: A queixa nuclear
« Quando uma situação interior não é tornada consciente, acontece no exterior como destino. » Carl Jung, Aion: Researches into the Phenomenology of the Self
O que dizemos e as palavras que utilizamos para descrever as nossas mágoas ou lutas podem dizer muito mais do que pensamos. « A linguagem nuclear da nossa queixa nuclear pode guiar-nos como uma bússola através de gerações de angústia familiar inexplicada. » Um dos passos para procurar a raíz das nossas lutas é perceber padrões: linguagens que se repetem em determinados contextos, idades em comum com familiares em situações problemáticas, eventos, emoções e comportamentos que repetimos.
« Os nossos sintomas e queixas também nos podem levar a reparar uma relação quebrada ou ajudar a curar de um trauma pessoal ao obrigar-nos a enfrentar sentimentos que reprimimos há muito. »
Capítulo 7: Descritores nucleares
« Os sentimentos que temos pelos nossos pais são um portal para nós mesmos. »
Este capítulo desafia-nos a descrever e pensar as nossas relações com os nossos progenitores, descobrindo que o que somos é fruto do que vivemos com eles. « A maioria de nós sente que há coisas que não obtivemos dos nossos pais. Mas estar em paz com os nossos pais significa estar em paz com o que recebemos e também com o que não recebemos. »
« Não pode mudar os pais, mas pode mudar a forma como os guarda dentro de si. »
Capítulo 8: A frase nuclear
Somos levados a pensar no nosso maior medo, na pior coisa que nos poderia acontecer. E somos guiados num processo para perceber as dores que carregamos e a sintetizá-las numa única frase, que nos consome. Depois, deixamo-nos ir num caminho para encontrar a fonte do nosso maior medo, a pessoa ou evento que nos causou esta mágoa.
Capítulo 9: O trauma nuclear
Depois de descobrirmos a nossa frase nuclear chegamos à última ferramenta do mapa de linguagem: o trauma nuclear, que pode ser desvendado através de uma pergunta de ligação ou de uma diagrama de uma árvore genealógica.
Pergunta de ligação
Diagrama de árvore genealógica
PARTE 3: CAMINHOS PARA A RECONEXÃO
A terceira parte do livro foca-se num processo guiado de reflexão, perdão e cura.
Capítulo 10: Da perceção à integração
Descobrimos neste capítulo o caminho para fazermos pazes com o que carregamos, através de exercícios, práticas, palavras e imagens curativas. « É importante praticarmos estar com os novos sentimentos e sensações para que eles se possam enraizar em nós. »
Curar a relação com os nossos pais
« O simples ato de nos concentrarmos em palavras positivas afeta áreas do cérebro que podem melhorar a nossa perceção de nós mesmos e das pessoas com quem interagimos. »
Capítulo 11: A linguagem nuclear da separaçã0
Capítulo 12: A linguagem nuclear das relações
Capítulo 13: A linguagem nuclear do sucesso
Capítulo 14: O remédio da linguagem nuclear
Este livro pretende libertar-nos do peso dos traumas que herdamos, conectar-nos com as nossas origens, deixar ir o peso que não nos pertence e viver uma vida mais segura e tranquila.
« É o amor transmitido por aqueles que o precederam, um amor que insiste em que viva a sua vida plenamente, sem repetir os erros e infortúnios do passado. É um amor profundo. É um amor tranquilo, um amor intemporal que o liga a tudo e a todos. É um remédio poderoso. »
Outras citações que adorei do livro:
« Às vezes o coração tem de quebrar para se abrir.»
« Em muitos aspetos, recuperar de um trauma é semelhante a escrever um poema. Ambos exigem o momento certo, as palavras certas e a imagem certa.»
Considerações Pessoais
Fiquei presa a este livro na primeira parte, adorei perceber a fundamentação teórica e os estudos e exemplos que foram apresentados que, de facto, comprovam que toda esta metodologia é baseada em factos e provas e não apenas em teorias por provar.
Como todos os livros de auto-ajuda e desenvolvimento pessoal, a segunda e terceira partes são muito mais práticas e desafiam-nos a pensar na nossa situação, a escrever sobre isso e a passar por um processo cheio de exercícios que nos ajudarão a encontrar e trabalhar nas nossas angústias. Não sou particularmente fã desta parte mais prática, talvez por ser difícil trabalhar e mexer nalgumas emoções que vão cá dentro.



