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Viagem a Solo à Guatemala: O Meu Roteiro de 10 Dias ✈️🎒🇬🇹

Viagem a solo à Guatemala: o meu roteiro de 10 dias

Dia 10 de Abril de 2023 embarquei sozinha para uma aventura de cerca de 10 dias na Guatemala. A viagem à Guatemala não estava nos meus planos. Surgiu depois da necessidade de cancelar uma viagem ao Peru pela instabilidade política do país na altura. Comecei a pesquisar um outro país que me pudesse acalmar o bichinho carpinteiro e encontrei a Guatemala. Queria muito pisar o continente Americano. Pesquisei muito e quando vi que havia a possibilidade de subir um vulcão e ver outro em erupção, fiquei doida. Queria fazer aquilo. A minha guia de uma das viagens de grupo que fiz, Patrícia, já me tinha falado do quão subvalorizado era este país, de paisagens e diversidade incríveis, de história, gastronomia e hospitalidade fora do comum. Estavam reunidas as condições e o desejo de ir, que concretizei e agora conto-vos tudo. Fiquem com o meu roteiro a solo de 10 dias na Guatemala!

5 Razões para Visitares a Guatemala

Localizada na América Central, a Guatemala é um país que me surpreendeu imenso pela positiva, uma jóia escondida que se destaca por 5 razões:  

  1. Riqueza Cultural e Histórica

    A Guatemala é um tesouro arqueológico com uma história rica que remonta à civilização Maia. As suas cidades antigas, como Tikal, são fascinantes locais arqueológicos que nos trazem uma visão profunda da cultura e da história Maia. Além disso, a influência colonial espanhola é evidente na arquitetura, arte e tradições do país (como a enorme devoção à Religião), criando uma mistura única de culturas.

  2. Paisagens Deslumbrantes

    A Guatemala é abençoada com paisagens incríveis, desde vulcões imponentes a lagos pitorescos e florestas tropicais exuberantes. O Lago Atitlán, cercado por vulcões, é uma das paisagens mais impressionantes do mundo. 

  3. Hospitalidade Guatemalteca

    Os guatemaltecos são conhecidos  pela sua hospitalidade calorosa e acolhedora. A cultura guatemalteca é profundamente enraizada na hospitalidade, e os viajantes sentem-se bem-vindos e apreciados. É possível interagir com as comunidades locais, fazer perguntas e, ao mesmo tempo, sentir-se em casa.

  4. Gastronomia Saborosa

    A culinária guatemalteca é uma delícia para os sentidos. Com uma variedade de pratos autênticos e sabores condimentados, é uma oportunidade de experimentar uma explosão de sabores locais. Para além disto, o café guatemalteco é conhecido pela sua enorme qualidade. (Nota sobre mim: odeio café, só o cheiro dá-me náuseas, por isso não consigo comprovar esta informação). 

  5. Aventuras Únicas

    A Guatemala oferece uma panóplia de atividades emocionantes para os aventureiros. Desde a escalada de vulcões ativos como o Acatenango até a exploração de cavernas em Semuc Champey, há opções para todos os níveis. 

Em resumo, a Guatemala é um destino turístico excepcional e muito completo. Não importa qual é o principal fator que te leva a viajar, acredito que a Guatemala tem algo para oferecer a todo o tipo de viajantes. 

A Longa Viagem até à Guatemala

Como tinha comprado voos inicialmente para o Peru, para além de ter pago bem mais do que queria para fazer alterações, o percurso foi tudo menos eficiente. 
Foram mais de 35 horas de viagem, 3 voos e um transfer para chegar à primeira cama na Guatemala.

  • 10 Abril | 20h: Voo Lisboa -> Madrid
  • 10 Abril | 22h30: Chegada a Madrid
    “Dormi” no Aeroporto de Madrid. Foi mais difícil do que estava à espera porque, estando sozinha, estava sempre preocupada com a possibilidade de me abordarem ou roubarem, sou honesta. Não havia assim tanta gente a dormir lá, porque tive mesmo de sair, levantar a mala e depois voltar a fazer o check-in. Havia um café aberto 24horas onde estava todo o tipo de pessoas, de jovens a idosos sem abrigo. Mas, com o entusiasmo de ir, tudo se fez.
  • 11 Abril | 15h10: Voo Madrid -> Cidade do Panamá
  • 11 Abril | 18h40: Chegada à Cidade do Panamá e 3 horas de escala.
    Aproveitei para trocar já algum dinheiro que tinha levado e ler um bocadinho. Estava exausta e só queria chegar a uma cama. A ansiedade era tal que tive uma quebra de tensão enquanto esperava. Salvaram-me as bolachas maria que trazia de Portugal.
  • 11 Abril | 21h14: Voo Panama -> Cidade da Guatemala
  • 11 Abril | 22h40: Chegada à Cidade da Guatemala
    Quando planeei a viagem excluí do roteiro a Cidade da Guatemala por alguns motivos: 1) Não tinha pontos de interesse suficientemente relevantes para priorizar num roteiro de 10 dias; 2) É uma cidade com bairros perigosos por ser a capital e acumular muita gente de várias culturas; e 3) Era a minha primeira vez na América e na América Central e ainda por cima sozinha pelo que não quis arriscar correr perigos desnecessários. Deste modo, assim que aterrasse o meu plano seria ir para Antigua, a 40km / 1h30 de carro.
  • 11 Abril | 22h30: Transfer de Carro Cidade da Guatemala  -> Antigua  
    Eu já imaginava que iria chegar exausta e tinha lido que à saída do aeroporto era um caos de taxistas e transportes, por isso, perdi amor ao dinheiro, e negociei com o meu Hostel em Antigua o transfer do aeroporto para Antigua, que ficou por cerca de 40€. No aeroporto estava o meu motorista, com um papel com o meu nome à minha espera e segui-o até ao estacionamento. Assim que saí a porta do aeroporto havia um magote enorme de homens taxistas aos berros. Sim, só homens e eram mais de 40 amontoados e a falar com toda a gente, como se fossemos todos surdos. Aí tive a certeza: foi a melhor decisão que poderia ter tomado. Seguimos durante 1h30 até Antigua. Estava a lutar contra o sono porque estava com algum receio mas acabei por adormecer e acordar já em Antigua e correu tudo bem.
  • 12 Abril | 00h30: Chegada a Antigua
    O meu Hostel tinha a receção aberta e foi só fazer o check in, receber a chave do quarto e enfiar-me na cama. 

Dia 1: Pela Cidade Colonial de Antigua

Igreja de la Merced
Igreja de la Merced

O meu primeiro ponto de paragem foi Antigua, uma cidade colonial património Mundial da UNESCO. Antigua é famosa por sediar uma das celebrações da Semana Santa mais espetaculares e emocionantes do mundo. Durante essa semana, as ruas de Antigua são decoradas com elaborados tapetes coloridos, e procissões religiosas são realizadas em homenagem à Paixão de Cristo. É uma experiência cultural única que atrai visitantes de todo o mundo. 

Dada esta pequena introdução sobre Antigua, vou contar-vos como foi o meu primeiro dia.

Alojamento: Ojalá Hotel

Com mencionado fiquei hospedada no Ojalá Hotel, que podem reservar no site deles ou pelo Booking.com. Fiquei num dormitório misto com 8 camas, mas há opções de quartos privados também. Com uma pontuação de 9,2 no Booking, só posso dizer coisas boas: as instalações são incríveis, super central e tem um pequeno terraço no centro do Hotel. Se voltar a Antigua, voltarei a este sítio. Fiquei 3 noites aqui e paguei 24€ por noite, com pequeno almoço incluído. 

Manhã

O dia começou cedo, depois de hibernar por umas 8 horas, acordei e tomei o pequeno almoço no terraço do hotel. Havia várias opções de pequeno almoço mas eu decidi optar pelo menu constituído por: ovos mexidos com tomate, feijão preto, tortilhas de milho, uma taça de fruta e chá preto.

Comecei o meu passeio por Antigua assim meio que a deambular pelas ruas. Era o meu primeiro dia na Guatemala e queria absorver a cultura. Tinha uma lista de coisas e sítios que queria ver mas não queria um horário muito rígido para este primeiro dia. Caminhei em direção ao Parque Central de Antigua e fui-me deliciando com as pessoas, os vendedores ambulantes, os pombos, as igrejas e edifícios envolventes e os vulcões que rodeiam a cidade. É nesta praça que está a Catedral de San Jose, construída no século XVII, que é testemunho do colonialismo e moldou a arquitetura da cidade.

Segui para o Mercado Central e explorei todas as opções possíveis de souvenirs que existem. Passei por uma banca e a senhora meteu-se logo comigo: “O que procuras? Algo para o teu namorado?” Eu, engraçadinha de serviço, respondi: ” Procuro namorado”. Rimos as duas. Eu de nervoso.

Continuei a rota e caminhei até a um dos locais que mais aparece nos postais: o Arco de Santa Catalina. Pertencia originalmente às freiras reclusas do convento de Santa Catalina Virgen y Mártir, que hoje é Hotel, é uma das imagens de marca de Antigua. Este icónico arco de pedra representa a transicação entre o antigo convento de Santa Catalina e a cidade. Através dele podemos ver o Vulcão Pacaya, que faz parte da paisagem da cidade, e se ergue nos seus 2552m de altura.

Ainda de manhã, subi a rua até à Igreja de la Merced, uma das igrejas mais impressionantes, com uma fachada trabalhada e um interior majestoso. É um dos pontos de partida para as celebrações da Semana Santa e um lembrete das influências espanholas e de uma Guatemala colonial.

Almoço: La Bruja

Tinha pesquisado alguns restaurantes e, apesar de não tradicional, este saltou-me à vista. Aliás, é só irem ao Instagram e percebem porquê. Foi uma surpresa muito agradável. Uma bowl com imensos vegetais, uns saborosos colgumelos e uma limonada deram-me forças para o resto do dia.

Almoço La Bruja antigua guatemala
Bowl em La Bruja

Tarde

Depois do almoço, deambulei um pouco mais pela cidade e fui apreciando as pequenas coisas: entrei no McDonalds e adorei o espaço, deliciei-me com as farmácias da Guatemala, perdi-me nos mercados de rua e nas pessoas a ver futebol numa tasca. Atravessei as estradas com as dezenas de motas. É das coisas mais engraçadas, sempre que visito países menos ocidentalizados e, se quisermos, menos desenvolvidos, a maioria das famílias tem uma mota e não um carro e eu adoro a dinâmica de apreciar quantas pessoas eles conseguem encaixar em cada mota.

Ainda sobre os mercados, descobri as tortilhas de milho azul que eles fazem, uma receita e tradição que remonta à civilização Maia. O milho azul é uma variedade de milho muito comum na América Central e que dá uma cor fora do comum a estas tortilhas.

Perdi-me no meio de um dos mercados e encontrei Guatemaltecos a ver um jogo de futebol. O locutor introduzia o próximo jogador a entrar em campo: o Português João Félix. Ao meu lado, estava um autocarro a dizer Carolina. Era o sinal que precisava para saber que estava no sítio certo. A vida tem sempre coisas bonitas para nos encher o coração quando estamos longe de casa.

Visitei também a estação dos autocarros típicos… Chicken Bus Station. Estes autocarros chamam-se de “Autocarros Galinha” porque as pessoas transportavam, e ainda transportam, galinhas e outros animais vivos neles, juntamente com o resto das suas compras nos mercados.

Terminei o dia num miradouro, o Cerro de la Cruz.  Com uma vista incrível sobre a cidade e os vulcões que a rodeiam, foi um sítio lindo para encontrar alguma paz. Vi também um pai (assumo) abraçado a duas crianças a rezarem os 3, foi um momento muito bonito.

Todas as coisas que visitei neste dia foram grátis.

Noite

O fim do dia estava a aproximar-se e eu tinha uma grande jornada à minha espera nos dois dias seguintes por isso acabei por comer um Burrito e uma Cerveja num café ao lado do Hotel: Qahwa Coffee Shop. Se há coisa que adoro é provar as cervejas nacionais dos países. O jantar ficou por cerca de 9€.

Segui então para o Ojalá Hotel e comecei a preparar as minhas malas. Esperavam-me uns longos dois dias pela frente: a subida ao Vulcão Acatenango. 

Dias 2 e 3: A Subida ao Vulcão Acatenango

Chegada ao cume do Acatenango, 3976m, 5h55, 14 Abril 2923
Conquista do cume do Vulcão Acatenango

Os dias 2 e 3 foram uma dos maiores desafios da minha vida. Partilhei com vocês anterioremente, por isso espreitem tudo por lá!

Artigo: Subida épica ao topo do Acatenango: uma noite memorável com vista para o Vulcão de Fogo em erupção

Vão encontrar o meu testemunho de uma aventura única que combina a subida ao Vulcão Acatenango, uma noite sob as estrelas e a oportunidade de observar uma das forças mais impressionantes da natureza: a erupção do Vulcão de Fogo, o vulcão mais ativo da América Central.

Tarde e Noite do Dia 3

Regressada a Antigua depois da aventura de subir o Acatenango, voltei ao Ojala Hotel, onde tomei um muito necessitado banho e hibernei durante 5 horas na cama. Eu estava exausta e doía-me o corpo todinho. Liguei para Portugal a contar que tinha conseguido.

Para mal dos meus pecados, quando cheguei ao Hotel deram-me a cama de cima de um beliche, eu implorei por uma no chão mas não havia. Bem, mais uma subida menos uma? Estava enganada, cada degrau custou muito.

Foi também altura de pensar o que fazer com a roupa imunda que me tinha acompanhado na jornada: alguma lavei, as sapatilhas decidi, em conjunto com a minha mãe, que iria fechar num saco e só voltar a abrir ao pé dela em Portugal. Não sei quanto a vocês, mas eu acho que as mães resolvem todos os problemas do mundo. É um poder especial.

Depois, ao fim do dia, fiz de novo as malas que o dia 4 iria levar-me para outro sítio e voltei ao  Qahwa Coffee Shop para uma tortilha ao jantar, que ficou por volta de 6€. Afinal, não conseguia andar nem mais 1 metro.

Dia 4: O Lago Atitlán e os seus Povos

lago atitlan
Lago Atitlán

 O  Lago Atitlán é muitas vezes descrito como um dos lagos mais belos do mundo, é um lago enorme de águas azuis rodeado por vulcões majestosos e aldeias pitorescas. Cada uma dessas povoações tem sua própria personalidade e atrações únicas:

  1. Panajachel: Esta é a cidade mais movimentada e frequentemente serve como ponto de entrada para o lago. Panajachel oferece uma ampla variedade de restaurantes, lojas de artesanato e vida noturna. A cidade também é conhecida pelo mercado de rua, onde podemos encontrar produtos locais, incluindo tecidos, cerâmica e jóias.

  2. San Pedro La Laguna: Uma das povoações mais populares entre os viajantes, San Pedro é conhecida pela sua atmosfera descontraída. A cidade oferece várias escolas de espanhol, muitas opções de alojamento económico e uma cena noturna animada. Além disso, é possível fazer caminhadas nas montanhas circundantes.

  3. San Marcos La Laguna: San Marcos é frequentemente associada ao bem-estar e ao espiritualismo. É um local popular para ioga, meditação e retiros. A cidade também é tranquila e tem uma atmosfera relaxante, com praias e muitas opções de alojamento eco-friendly.

  4. Santa Cruz La Laguna: Esta é uma opção mais tranquila para os visitantes que procuram paz e tranquilidade. É um ótimo local para aproveitar a vista panorâmica do lago e das montanhas circundantes.

  5. San Juan La Laguna: Esta pequena povoação é conhecida pelas cooperativas de artesãos, onde podemos aprender sobre a produção de têxteis, pinturas e produtos naturais. 

  6. Santiago Atitlán: Esta é uma das povoações mais tradicionais às margens do lago e é um lugar onde a cultura maia é muito presente. A igreja de Santiago Atitlán abriga uma figura religiosa importante conhecida como Maximón.

  7. Santa Catarina Palopó: Conhecida pelas suas casas coloridas, é uma povoação encantadora que tem investido em projetos de revitalização e preservação cultural. 

  8. San Antonio Palopó: Esta é outra comunidade que preserva as tradições maias. É famosa pela cerâmica, e é possível visitar os ateliês locais para ver os artesãos no seu trabalho.

Cada uma dessas povoações ao redor do Lago Atitlán oferece uma experiência única e proporciona uma visão diferente da cultura guatemalteca. Há barcos/lanchas públicas que te transportam pelo lago entre todas estas povoações.

Manhã: Antigua >>> Lago Atitlán

Depois da minha merecida noite de descanso, acordei e finalizei as malas. Era dia de sair de Antigua e rumar ao Lago Atitlán. Mas não sem antes tomar um pequeno almoço que, adivinhem, foi igualzinho ao do primeiro dia.

Este foi um dia um bocadinho estranho, com uma manhã com alguns incidentes que me deixou com a moral um bocadinho em baixo.

Depois do pequeno almoço, esperei mais de uma hora pela minha boleia até ao Lago Atitlán. Eu, que odeio atrasos, já não estava a achar muita piada mas quem é vivo sempre aparece e eventualmente vieram apanhar-me. Reservei o transporte de Antigua para Panajachel (Lago Atitlán) diretamente com o Ojala Hotel e custou cerca de 14€. De ressalvar que foi numa carrinha com 12 lugares e não num autocarro ou transporte público. Depois de alguma pesquisa percebi que Panajachel era o ponto de partida e chegada principal do lago pelo que decidi que o meu destino seria esse.

Assim que entrei na carrinha havia um grupo de raparigas a falar das viagens e países que já tinham visitado, a fazer juízos de valor e comentários algo despropositados que me deixaram um pouco desconfortável. Como não estava com grande vontade de me chatear resolvi a situação colocando fones e a minha música terapêutica e seguimos viagem. Gosto muito de conhecer pessoas novas mas preciso muito do meu espaço, principalmente nas viagens que faço a solo, dou por mim  muitas vezes no meu mundo, na minha música, a repensar e a processar a vida, faz parte da minha terapia.

Alojamento: Selina Atitlán

Chegámos a Panajachel e deixaram-me no hotel onde iria pernoitar as próximas duas noites: Selina Atitlán. Procurei vários alojamentos por ali mas nem todos tinham muito bom ar. O Selina é uma cadeia hoteleira bastante conhecida e, como consegui um preço simpático reservei diretamente no site deles. Fiquei duas noites e paguei 25€ por noite, sem pequeno almoço.

Depois de fazer o check-in e deixar as minhas coisas decidi ir explorar a vila de Panajachel. Precisava de marcar uma tour para o dia seguinte e transporte para daí a 2 dias pelo que tinha de arranjar uma agência, uma vez que os preços do Selina eram um pouco inflacionados.

Desci até ao cais para ver a paisagem que tinha visto na internet: o lago com os vulcões de fundo. Estava muito nublado. Não se viam vulcões nenhuns. Fiquei triste mas segui viagem com a esperança de que o tempo abrisse mais para a tarde.

Segui pelas ruas de Panajachel, muito na descoberta. Não gostei da vibe, poucos turistas, muitas famílias. Percebi mais tarde que sábado era o dia em que saíam em família, e posso ter apanhado um dia um bocadinho fora do normal. Havia poucas agências e eu não estava muito convencida com o que tinha encontrado. Entrei numa e o senhor que lá trabalhava era americano, foi logo um grande não para mim. Gosto de ajudar os negócios e pessoas locais quando visito outros países. Estava a desanimar.

Segui pelo mercado junto ao lago, vi vários restaurantes e decidi que precisava de comer para subir a moral antes de ir em busca de agências e do barco para ir explorar o resto do lago. Havia imensas famílias a almoçar juntas e isso deu-me algumas saudades de casa. Depois, avistei um restaurante que me pareceu mais ou menos e que tinha mesas vazias. Aproximei-me e perguntei se me podia sentar para almoçar. O senhor respondeu-me que não tinham lugares. Gelei. Mais uma para o dia desanimador. Nunca me tinha acontecido mas senti-me discriminada. 

Não desisti, segui e entrei noutro restaurante. Desta vez tinham várias mesas vazias e havia outros turistas pelo que decidi assumir sem perguntar e sentei-me numa mesa vazia. E correu bem.

Almoço: Comedor Cláudia

Depois das desaventuras da manhã eu estava mesmo desanimada para o resto do dia mas ao menos tinha conseguido uma mesa e ia almoçar no Comedor Cláudia. Pedi frango frito que vi muita gente a comer e devo-vos confessar que foi dos melhores que já comi. Talvez porque precisava de algo bom e me soube especialmente bem. O almoço custou 6€. Olhando para trás, acho que foi este almoço que mudou o rumo do meu dia, para melhor.

Depois do merecido almoço, senti-me com energia para ir marcar a tour e transporte que me faltavam. Percorri as ruas e encontrei uma agência com uma mãe e uma filha. Inspirou-me logo confiança. Partilhou comigo os preços em espanhol porque disse que era bom para eu praticar. Estava a ensinar o negócio à filha, desde a tabela de preços ao mexer no multibanco, e insirou-me logo confiança. Disse-lhe que tinha animado o meu dia e decidi marcar com elas tudo. Às vezes só precisamos de pessoas que nos façam sentir bem para mudar o nosso dia. A agência chamava-se Nuevo Amanecer Travel Agency e no link têm a localização no maps. Recomendo a 100%. Antes de ir embora ainda perguntei qual das povoações do Lago valeria mais a pena visitar e como ir. A senhora explicou-me como apanhar os barcos públicos e sugeriu San Juan. Eu segui.

Fui até ao cais e, com ajuda dos locais muito prestáveis, entrei no barco com destino a San Juan la Laguna. Na verdade, os barcos vão parando nas outras localidades quase todas. São cerca de 20 min para cada lado e a ida e volta ficou por cerca de 7€.

Assim que cheguei tive a certeza que foi a melhor decisão. Vi logo uns artistas de rua a tocar, umas bolas de sabão a voar, montes de locais vestidos a rigor e, numa das lojas, um retrato de Cristiano Ronaldo. Estava no sítio certo. Deambulei pela vila, numa rua de chapéus de chuva, numa rua de chapéus de sol, pelas ruas cheias de desenhos nas paredes e percebi que era mesmo o que a internet tinha prometido, um povo que vivia de e para a arte. Gostei imenso e chegou para compensar pela manhã atribulada que tinha tido.

Voltei ao final da tarde, de barco, para Panajachel, comprei algo para comer no supermercado e fui direta ao hotel para hibernar. Quando viajo sozinha não costumo aventurar-me muito durante a noite porque o meu foco é aproveitar o dia e para isso também preciso de arrumar a minha roupa, lavar alguma se for preciso e descansar durante a noite.

Dia 5: Mercado Chichicastenango, o Coração do Artesanato Maia e Cristão

Mercado Chichicastenango

Tour de um dia

O dia 5 foi reservado para uma visita ao Mercado Chichicastenango. Tinha reservado esta tour no dia anterior e reservei transporte + guia. Digo-vos honestamente que não é necessário guia e dá perfeitamente para visitar tudo sozinhos, principalmente se tiverem pesquisado antes, por isso, não façam como eu. A tour completa custou-me cerca de 50€ mas podia ter ficado por 25€ sem guia, e tinha sido a decisão mais acertada. Vivendo e aprendendo.

Vieram buscar-me ao Selina e seguimos numa carrinha por curvas e contracurvas numa Guatemala rural até chegarmos ao nosso destino.

O Mercado de Chichicastenango é realizado às quintas e domingos e é considerado um dos maiores e mais movimentados mercados da América Latina. Além de têxteis e tecidos, podemos encontrar máscaras cerimoniais, cerâmicas tradicionais, produtos naturais, ervas medicinais e até mesmo animais vivos. É um ponto de encontro para inúmeras comunidades e é neste local que muitas famílias fazem as suas compras.

Começámos por ver o mercado de frutas e legumes. O meu guia estava super contente porque eu era a primeira Portuguesa que ele via depois da pandemia.

 

Seguimos caminho e fomos ver os têxteis, habilmente tecidos à mão por artesãos guatemaltecos. Estas peças são verdadeiras obras de arte, com padrões e cores que contam histórias profundas sobre a cultura e a tradição maia. Cada detalhe, cada cor, é um reflexo da rica herança cultural que se estende por séculos. Cada povo do Lago Atitlán tem a sua forma e cores específicas de bordar e de se vestir, eles sabem bem distinguir-se. As mulheres ainda utilizam bastante as vestes tradicionais enquanto nos homens está a cair em desuso.

Um ponto de destaque do mercado é a Igreja de Santo Tomás. Esta igreja colonial, que remonta ao século XVI, é uma fusão fascinante de espiritualidade cristã e crenças maias ancestrais. Foi construída em cima de um templo Maia. Dizem que foi aqui que foi encontrado o equivalente à Bíblia da cultura Maia: o Popol Vuh. Baseia-se no princípio de que tudo se dá pela palavra não de um só deus, mas de várias entidades divinas que proclamam a existência de árvores e animais. O ser humano foi feito a partir do Milho, daí a expressão: “Hombre de Maíz”. 

A igreja de Santo Tomás também é um local onde os xamãs maias tradicionais realizam cerimónias rituais, que incluem a queima de incenso e a oferta de orações. Esses rituais são uma manifestação da crença na coexistência pacífica entre as antigas tradições maias e o cristianismo introduzido pelos colonizadores espanhóis. Os locais vêm aqui para realizar rituais religiosos que muitas vezes misturam elementos das duas culturas. É um testemunho da profunda espiritualidade dos guatemaltecos.

Não muito longe da igreja, encontramos o cemitério de Chichicastenango, onde túmulos coloridos e elaboradamente decorados celebram a vida e a morte de uma maneira única. É um lugar de profundo significado cultural e espiritual, onde a morte é vista como uma parte natural do ciclo da vida. Em ambas as culturas as pessoas são enterradas. 

Quando estávamos a descer para o cemitério passamos por um funeral. O guia falava com toda a gente sobre tudo. Falava ou em espanhol ou num dialeto maia. Há 22 na Guatemala inteira.  O fuenral era de um jovem de 25 anos. O guia disse que estava a morrer muita malta de 20 e poucos por ali, alguns suicidavam-se. Com a pandemia, muitos tinham perdido empregos e ingressado na construção civil para poderem pagar os seus empréstimos. 

Voltámos a subir em direção ao mercado e passamos pelo mercado de animais vivos, com espécies para todos os gostos. Pareceram-me muito mais humildes que os outros comerciantes. Vi uma senhora que, depois de ter vendido todas as galinhas, estava a apanhar o grãos de milho do chão, um a um. Mexeu comigo.

Continuámos e voltamos ao mercado principal. O guia ajudou-me a negociar umas fronhas de almofada e umas lembranças que gostaria de levar, até foi bastante útil aqui sou honesta. Eu não sou muito boa a negociar, fico sempre com pena mas, a verdade é que se não negociarmos, estamos a comprar produtos super inflacionados e também não me faz sentido. Acho que chegámos a um preço justo.

Depois o guia deixou-me uma horinha livre para deambular por ali. Fui comer uma espécie de rissol com salada russa que estava maravilhoso e terminei com uma manga. A melhor coisa destes países é mesmo a fruta à venda na rua, a preços baratos, delicio-me sempre.

Antes de ir embora, tive ainda a oportunidade de ver um cavalheiro Guatemalteco, todo apraltado nas suas roupas a ter os seus sapatos engraxados. Perguntei se podia tirar uma foto e sorriu muito carinhoso. Quando for grande, quero ter aquele estilo todo. 

Regressámos a Panajachel por volta das 16h pelo que já não consegui ir ver outra das povoações, como planeado, porque os barcos terminam por volta das 17h. Mas foi um dia muito bem passado a sentir todas as tradições, texturas, padrões, emoções. Mercados são das minhas coisas favoritas de visitar, há sempre algo de muito único, autêntico, mas também comum neles.

Noite

O fim do dia foi uma agradável surpresa. Voltei ao cais para perceber se o nevoeiro tinha ido embora. Não totalmente mas deu para ter uma ideia da paisagem que me rodeava. É sempre nestes momentos de luz bonita e cores garridas que me apercebo que sou mesmo sortuda.

Depois, voltei ao centro de Panajachel e jantei num dos poucos sítios que aceitava cartão porque o meu dinheiro físico estava a esgotar-se e levantar ou trocar dinheiro não me compensava nem um bocadinho. Acabei a jantar frango frito de novo no El Tipico, nada de especial, mas cumpriu o seu propósito. Custou cerca de 10€.

Passei num mini mercado/loja de conveniência para comprar comida para o dia de estrada que me esperava no dia seguinte e depois voltei ao Selina Atitlán. Foi novamente altura de arrumar as malas todas. Viajar a correr acaba por ser muito isto: fazer e desfazer malas a toda a hora. Faz parte das coisas chatas. 

Dia 6: A Caminho de Lanquín

Panajachel >>> Lanquín

O dia 6 foi um dia longo e duro. Quando me decidi pela Guatemala e comecei a planear o percurso, vi logo que queria ir a Semuc Champey, as impressionantes piscinas de água azul. O problema é que para ir, teria de “perder” dois dos meus preciosos 10 dias em transportes. Semuc Champey fica numa zona bastante isolada e para lá chegar, de qualquer um dos outros locais turísticos, precisamos de cerca de 10h de estrada. Não há autocarros ou transportes noturnos porque é extremamente perigoso conduzir nestas estradas de noite, pelo que a única opção é fazer as viagens durante o dia. Para além disso, todos estes transportes não são propriamente uma pechincha. Custa “perder” dois dias em transportes quando não se tem tempo infinito mas, mesmo assim, decidi arriscar, estava confiante que iria valer a pena.

A carrinha, que tinha reservado na agência da senhora simpática, foi-me buscar pelas 7h30 ao hotel e começamos o nosso trajeto de 10 horas e 290 kms até Lanquín, sítio referência para ir a Semuc Champey. Este transporte custou por volta de 42€.

Foi muito bonito apreciar a paisagem a mudar e atravessar pequenas aldeias.Um curiosidade: fui em Abril e em Junho iriam decorrer eleições importantíssimas na Guatemala para eleger: presidente, congresso, parlamento e autoridades locais. O então presidente não podia concorrer mais pelo que havia 23 partidos a tentar a sua sorte. Havia propaganda política em tudo quanto era sítio, desde graffitis em casas em construção a panfletos em todos os postes de eletricidade. 

Parámos a meio do caminho para “almoçar” e foi uma boa oportunidade para explorar um supermercado grande Guatemalteco. Gostei como separam os abacates: os prontos a comer dos prontos em 2/3 dias. Para referência, 8,5 Quetzales equivalia mais ou menos a 1 euro. 

Chegámos a Lanquín já ao final do dia e a paragem final era numa bomba de gasolina. Tinha combinado com o senhor do meu hostel que ele me iria buscar à paragem final. E assim foi, quando chegámos ele já lá estava com a sua pick up: malas para cima e siga viagem que estava a começar a chover bastante.

Lanquín é uma terra bastante pequena e pouco desenvolvida pela que a opção hoteleira era um pouco limitada. Fiquei alojada no Hotel Rabin Itzam, num quarto privado com casas de banho partilhadas, e custou cerca de 11€ por noite. 

Estava cansada da viagem por isso comi uma das 47 porcarias que tinha comprado no supermercado ao almoço, combinei a tour do dia seguinte com o senhor do hotel e foi tempo de dormitar, enquanto chovia torrencialmente lá fora e eu rezava para que estivesse sol e calor no dia seguinte.

 

Dia 7: Semuc Champey, das Grutas às Piscinas de Sonho

Semuc Champey
Semuc Champey

Manhã

Começámos o nosso dia de aventura em Semuc Champey com uma emocionante viagem de Lanquín até o parque natural. Utilizamos uma carrinha de caixa aberta, um meio de transporte comum nesta região montanhosa da Guatemala. Todo o percurso estava em obras por isso foi um tanto turbolento. Mas tinha a certeza que o destino iria ser espetacular. Reservei este tour de um dia completo com o Hotel Rabin Itzam e incluiu todas as atividades: exploração das cavernas, tubing, subida ao miradouro e acesso às piscinas, exceto o almoço. Ficou por cerca de 22€.

Algumas Curiosidades sobre Semuc Champey 
  • O nome “Semuc Champey” significa “onde o rio se esconde” em língua maia. O que acontece é que o rio passa por baixo de umas pedras grandes e a água das piscinas é uma água que vem de dentro das montanhas e não é a água do rio.
  • Semuc Champey é frequentemente chamada de “o segredo mais bem guardado da Guatemala” devido à sua localização remota.
  • As piscinas naturais de Semuc Champey são uma maravilha geológica, com 300 metros de comprimento e terraços de calcário cobertos por vegetação.
  • A região de Semuc Champey é um importante refúgio de vida selvagem, lar de diversas espécies de aves e animais.

 

Assim que chegámos o guia David distribuiu boias grandes que iríamos utilizar mais tarde e fizemos uma pequena caminhada até à entrada das grutas. 

Curiosidade: Há muita gente com nomes Bíblicos na Guatemala, não fossem eles um povo muito devoto. Para além dos clássicos Maria, José, João, há também muitos Gabriel, Moisés e David.

Exploração das Grutas/Cavernas

À entrada das grutas deixámos os nossos pertences guardados e foi-nos dado uma vela a cada um. Seria esta vela que nos ia guiar grutas adentro.

Entramos nas grutas a medo, e fomos os primeiros do dia. O guia estava sempre muito divertido e decidiu pintar-nos com uma espécie de lama da gruta. A mim fez-me um M no peito, a dizer que estava casada (married) com ele, sempre na brincadeira, espero eu. 

O percurso é diverso, tem partes com escadas em pedra e outras que são autênticas piscinas. Todo o percurso está sinalizado e há cordas em todo o lado. O desafio foi conseguir agarrar a corda, a gopro e manter a vela acesa, principalmente quando tínhamos de nadar em piscinas sem pé. Foi um percurso de uma hora e acho que há partes que são um bocadinho perigosos, não aconselho para pessoas com pouca destreza, equilíbrio, desejitadas no geral ou que tenham alguma claustrofobia, mesmo que mínima.

Quando estávamos a sair das grutas, já havia outros grupos a entrar e foi aí que saímos para a nossa aventura seguinte.

Tubing no Rio Cahabón

Depois de explorar as cavernas, voltámos a pegar nas boias e descemos até ao ponto onde terminam as piscinas e volta a ser rio, que seria também o nosso ponto de partida para o tubing, que no fundo é sentar o rabo numa boia e ser levado pela corrente rio abaixo. 

Quando chegámos ficamos todos um bocadinho em pânico. Tinha chovido muito no dia anterior e o rio estava completamente lamacento, castanho mesmo. Foi aí que o guia nos acalmou dizendo que iríamos ver as piscinas azuis na mesma porque a água das piscinas vem de dentro da montanha e não é a do rio.

Nisto, pegámos nas boias e aí fomos nós. Foi um passeio muito tranquilo. Pelo meio apareceram uns miudos, também nas suas boias a venderem cervejas e bebidas, para quem quiser desfrutar de um refresco pelo rio abaixo. Foi um passeio super tranquilo e relaxante e estava um tempo maravilhoso.

Almoço

Amoçamos com os locais, havia uma espécie de serviço de almoço para os turistas que visitam Semuc. Os Guatemaltecos fazem um grande churrasco e acompanhamentos e revendem para os turistas. Foi bom não ter de me preocupar antes com o almoço e desfrutar de comida local. O almoço ficou por cerca de 7€.

Tarde

Subida ao Miradouro

Depois do almoço foi altura de subir até ao miradouro. Estavam alguns 38ºC e uma humidade para aí nos 70% por isso assumo que possa não ser a melhor altura. Foi uma subida de cerca de 45 minutos e eu estava a suar o caminho todo, literalmente a escorrer. O corpo ressente-se muito nestas temperaturas.

Mas valeu super a pena. A vista é simplesmente majestosa. No meio de imensas montanhas e florestação densa emergem umas piscinas naturais de uma água cristalina. É, sem dúvida, uma vista incrível, mas eu sou suspeita, que adoro miradouros.

Mergulho nas Pisicinas Naturais

Voltámos a descer e fomos ver o ponto onde o rio “se esconde” e passa por baixo das piscinas. é impressionante. 

Finalmente foi tempo de relaxar e nadar nas piscinas. A água é otima e convida mesmo a um mergulho naquele cenário incrível. Tem também várias pequenas grutas que o nosso guia fez questão de nos mostrar, bem como os melhores locais para mergulhos. Soube bem aquele momento ao fim do dia. Fomos os últimos a sair das piscinas.

Foi então altura de regressar à carrinha de caixa aberta e começar o percurso de volta para Lanquín. A meio do percurso percebemos que a estrada estava em obras e tivemos todos de ficar cerca de uma hora à espera que pudessemos retomar o caminho. Os guatemaltecos apressaram-se a tentar vendernos snacks e bebidas. Foi aqui, neste contexto inesperado que encontrei um português, o único desta viagem. É madeirense e trabalha e vive em França. Diz que sou a primeira portuguesa que encontra a viajar e que costuma fazer muitas viagens por esta zona.

Regressada a Lanquín, dei uma volta pela vila e os seus mercados com uma alemã que tinha conhecido e acabámos por jantar as duas num restaurante local muito simples. O jantar ficou por cerca de 4,5€.

 

Dia 8: A Caminho de Flores

Lanquín >>> Flores

O dia 8 foi mais um dia longo e duro na estrada, muito semelhante ao dia 6.

Voltei a acordar cedo e enfiar-me mais um dia inteiro dentro de uma carrinha. Desta vez foi um trajeto de cerca de 9 horas e 244kms até Flores. Ficou por cerca de 21€ e foi também reservado no alojamento em Lanquín.

Neste percurso senti realmente a paisagem a mudar, a ficar mais verde e com vegetação mais densa. Algo que acho engraçado em vários países menos desenvolvidos: há sempre senhores nas estações de serviço ou postos de gasolina que lavam os vidros e dava-me muito jeito em Portugal.

Depois parámos no meio de uma aldeia para comprar alguma comida e comprámos frutas aos comerciantes locais, porque não havia muito mais à venda. Uns 5 min depois passámos por um controlo de fruta e pragas. Fomos parados, abriram a porta da carrinha e perguntaram-nos se tínhamos fruta, todos respondemos que não, como nos havia instruído o condutor minutos antes e seguimos viagem.

Tivemos ainda outra situação caricata. Tínhamos um pequeno rio para atravessar e tínhamos de usar o que eles chamam de “ferry”. O problema é que o ferry que podia levar carros e passageiros estava com um problema no motor que ia demorar 1 hora para arranjar, e ainda tinha uma fila de outros veículos à espera. O nosso condutor sugeriu separamo-nos: o carro ia sozinho num outro barco/ferry só para veículos e nós, os passageiros, íamos num barco só de passageiros e não teríamos de esperar. Isto implicava um custo adicional, que teríamos de suportar, de 0,30€. Lá fiz de tradutora de espanhol para inglês para o resto dos passageiros. A maioria queria pagar para não ter de esperar, mas havia um ou dois alemães que estavam desconfiados de que estávamos, de alguma forma, a ser enganados. Lá usei algum poder de argumentação e a força da democracia e seguimos a sugestão do nosso condutor. Foi engraçado ver embarcações tão frágeis a levarem carrinhas e camiões. A necessidade aguça mesmo o engenho.

Pouco depois, chegámos a Flores. Mesmo a tempo de um bonito pôr do sol, com vista para o Lago Petén Itzá. 

Algumas curiosidades sobre a Ilha de Flores
  • Ilha de Flores é a única cidade na Guatemala que está localizada numa ilha. Está conectada ao resto do território por uma pequena ponte. 
  • Foi construída sobre as ruínas de um antigo posto militar espanhol e tem uma arquitetura colonial.
  • O nome “Flores” foi dado pelos espanhóis em homenagem ao primeiro governador espanhol da Guatemala, Cirilo Flores de San Pedro.
  • Ilha de Flores é considerada o ponto de partida para a exploração das ruínas de Tikal, uma das mais impressionantes cidades maias antigas.
Chegados a Flores, caminhei até ao Hostel onde ia ficar as minhas últimas duas noites na Guatemala: Los Amigos Hostel. Fiquei num dormitório com 8 camas e ar condicionado e ficou por 21€ por noite, sem pequeno almoço. Fiz o check-in e comecei logo a ver as excursões que tinham para Tikal, que ainda não tinha marcado e acabei por marcar com eles também. Há vários preços, dependendo da hora a que quiseres entrar e dependendo se queres ver o nascer ou pôr do sol, o que acaba por ser mais caro. 

Depois de tratar da burocracia e do check-in dei um pequeno passeio pela ilha, que se vê super bem a pé. Testemunhei um bonito pôr do sol e decidi que merecia um miminho. Decidi beber um cocktail e jantar com vista para este pôr do sol. Jantei na Casa da Amelia um mojito e umas tortilhas e paguei cerca de 12€.

Depois, voltei a deambular pelas ruas e encontrei um torneio de basquetebol e encontrei também uma rapariga alemã que tinha feito o tour em Semuc Champey comigo. Ficámos a ver os jogos e a conversar. Depois, segui para o hostel que tinha de dormir cedo para aproveitar ao máximo o meu último dia na Guatemala.

Dia 9: Tikal, O Maior Complexo Arqueológico da Civilização Maia

Tikal
Tikal

Manhã

Reservei esta tour com o Los Amigos Hostel. O bilhete de entrada no parque é comprado lá e custa QT 150 ~ 20€.  Para além disso, reservei também transporte e guia com o Hotel, que custou 15€. No total, a tour ficou por 35€. No entanto, se quiseres ir no nascer ou pôr do sol tens de comprar o bilhete com antecedência e o valor é maior. Eu fiz a tour das 6h às 14h. O dia começou pelas 3h30 da manhã. Saímos do Hostel ainda de noite, pelas 4h, para sermos os primeiros a entrar no Parque.

Fomos numa carrinha de Flores a Tikal e demorámos cerca de 2h, num percurso de 65 km. Chegados à entrada, saímos da carrinha e fomos para a fila para comprar o nosso bilhete. Fizemos uma paragem para café e snacks e estávamos prontos para começar.

Tikal é uma das joias arqueológicas mais notáveis da Guatemala e um dos mais impressionantes sítios maias do mundo. No coração da densa floresta tropical do Parque Nacional de Tikal, esta antiga cidade maia é um destino muito popular. 

Algumas Cursiosidades sobre Tikal  

  1. Civilização Maia: Tikal foi uma das maiores e mais poderosas cidades maias, alcançando seu apogeu entre os séculos VI e IX d.C. A cidade abrigava uma população significativa e desempenhou um papel crucial na política e na cultura maias.
  2. Património Mundial da UNESCO: Em 1979, Tikal foi designada como Património Mundial da UNESCO devido à sua importância arqueológica e ao seu significado histórico.
  3. No meio da Selva: O que torna Tikal ainda mais fascinante é o facto das ruínas estarem cercadas por densa vegetação tropical. Este cenário cria uma paisagem única que foi inclusivé utilizada em filmes.

Quando estávamos a entrar tivemos uma pequena palestra de segurança e puseram-nos uma pulseira. Havia, na altura, um americano perdido na selva, pelos vistos acontece de vez em quando e nunca são encontrados com vida. Depois entrámos e foi um dia recheado de aprendizagens, deixo um resumo abaixo.

Vida Selvagem

  • Além das ruínas, Tikal é um paraíso para observadores de aves e amantes da natureza. A selva ao redor abriga uma variedade de espécies, incluindo macacos, tucanos e outros animais selvagens.
  • Logo quando entrámos vimos uma árvore enorme: Ceiba, a árvore nacional. Vivem até aos 300 anos e as folhas caem a cada 2. A vegetação nos seus ramos não é parasita.
Templos e Pirâmides
  • Durante o tour tivemos a oportunidade de visitar várias estruturas impressionantes, como o Templo I (Templo do Grande Jaguar), onde foi encontrado o túmulo do Rei Cacau, assim nomeado porque foi sepultado com sementes de cacau, com o objetivo de fazer uma bebida a caminho do submundo.
  • A maioria destes templos foram construídos para a conexão com Deus. Demoraram cerca de 20 anos a construir, com 5000 escravos. Muitos dos artefactos aqui encontrados estão em museus noutras cidades como Nova Iorque ou Londres. 
  • Subimos alguns dos tempos para ver a paisagem incrível: templos a furarem a floresta densa. Esta paisagem foi utilizada para ilustrar o Planeta Yavin, no filme do Star Wars Episódio IV: A Guerra das Estrelas.
Campos de Jogos
  • No complexo há também uns campos de jogos. A cada 52 anos, um dos ciclos do calendário maia, decorria um jogo. Havia duas equipas e o objetivo era colocar uma bola entre dois postes. Havia pouco público, a maioria de classes altas. O capitão da equipa vencedora era sacrificado aos Deuses e era uma honra ser sacrificado.
Plaza Principal 
  • A Plaza Mayor é o coração de Tikal e foi o local onde cerimônias religiosas e eventos importantes ocorriam. Ao caminhar por esta área central, tivemos a oportunidade de ver uma comunidade a fazer uma cerimónia Maia, que ainda são permitidas neste local.

Não se sabe ao certo o que aconteceu a estas comunidades mas eis a melhor teoria. O aumento exponencial da população levou a uma desflorestação desenfreada, que resultou em secas e fome. As famílias ricas, nobreza e clero fugiram para norte, para o México, onde reconstruíram cidades, porque tinham os conhecimentos técnicos. Estas novas cidades, por sua vez, desapareceram por completo aquando das conquistas espanholas. O resto da população foi para sul, para junto do Lago Atitlán, onde ainda hoje há descendentes de Maias.  

Algumas Dicas para a Tour
  • Quando fui estavam mais de 30ºC e 60% de humidade por isso pelas 11h já estava um calor insuportável, e pode ser duro para subir aos templos. O clima é muito quente e húmido
  • Levem muita água porque vai fazer-vos falta
  • Protetor solar, chapéu e replente são mais do que essenciais
  • Respeitem as regras e não subam a estruturas sem confirmar que podem
  • Vão com guia: aprendem imenso e podem fazer perguntas

Tarde

Já eram perto das 13h quando saímos de Tikal pelo que só cheguei a Flores já passava das 15h. Precisava urgentemente de comer mas queria aproveitar a última tarde na guatemala para descansar, planear a ida para o aeroporto e fazer as malas.

Decidi que merecia um brunch, às 16h. Sim, eu acho que mereço muita coisa, principalmente comida. Fui ao Maple & Tucino e comi esta refeição maravilhosa por 8€ e com vista para o lago.

Depois fui até ao Los Amigos Hostel, marquei o meu táxi para o aeroporto (6€) na madrugada seguinte e foi altura de fazer as malas todas e descansar.

Dia 10: O Regresso a Portugal

O regresso a Portugal foi mais rápido mas nem por isso menos atribulado.

  • 21 Abril | 7h45: Voo Flores -> Cidade da Guatemala
  • 21 Abril | 14h02: Voo Cidade da Guatemala -> Cidade do Panamá
  • 21 Abril | 20h25: Voo Cidade do Panamá -> Madrid
  • 22 Abril | 14h55: Voo Madrid -> Lisboa
Foram 5 aeroportos, 4 voos, muitos atrasos, uma corrida olímpica para apanhar o voo de Madrid para Lisboa mas consegui. Depois cheguei a Lisboa e a mala tinha ficado em Madrid mas tudo se resolveu e foram levá-la a minha casa no dia seguinte. 
A viagem foi longuíssima mas sinto mesmo que valeu a pena.

Considerações Finais

Este foi o meu roteiro de 10 dias na Guatemala e tenho a dizer que esta viagem a solo superou todas as expectativas e revelou-se uma surpresa incrível. Inicialmente, esta jornada surgiu como uma solução alternativa após o cancelamento de outra viagem, mas rapidamente se transformou numa descoberta fascinante de um país frequentemente subestimado como destino turístico.

A Guatemala é, de facto, um tesouro escondido na América Central, onde uma cultura rica se funde harmoniosamente com uma natureza deslumbrante. Fiquei encantada com a diversidade das paisagens que encontrei, desde as ruas de calçada de Antigua até às vistas impressionantes do vulcão Acatenango e à serenidade do Lago Atitlán.

Contudo, o que mais brilhou nesta jornada foram as pessoas extraordinárias que conheci. Desde os locais guatemaltecos, que partilharam as suas histórias e cultura comigo, até aos companheiros de viagem europeus que encontrei ao longo do caminho, cada encontro enriqueceu a minha experiência. Devo realçar que sempre me senti super segura durante toda a viagem.

A Guatemala pode ser subestimada por muitos, mas para aqueles que se aventuram a explorá-la, revela-se sem dúvida como um destino inesquecível.

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