Dipabhāvan Meditation Center
O meu retiro foi feito no Dipabhāvan Meditation Center, que é um oásis de paz escondido na fantástica ilha de Koh Samui, na Tailândia. Este centro é dedicado à prática da meditação e oferece retiros para todos os níveis de experiência, desde iniciantes até praticantes avançados, quer sejam locais ou estrangeiros.
A Fundação Dipabhāvan foi criada em conjunto com o Centro de Meditação Dipabhāvan em 2004. Com o apoio de budistas e do governo local, o centro estabeleceu parques florestais onde a meditação pode ser aprofundada e se podem realizar atividades ambientais. A fundação foi criada para apoiar ainda mais o Budismo e o bem público e alguns dos seus objetivos incluem a promoção da moralidade, da economia suficiente e da preservação do meio ambiente.
Retiros: duração e datas
Existem vários datas e durações de retiros que podes fazer neste centro. Todos os cursos têm as mesmas bases e focam-se na meditação.
Em todos eles, deixarás no primeiro dia os teus pertences valiosos como telemóvel, computador e qualquer forma de contacto com o mundo num cacifo. Durante todo o retiro o objetivo é praticares meditação e estares presente. Por isso, não podes falar, ler, escrever, conectar-te com o mundo exterior ou ver-te ao espelho.
Se este breve resumo te deixou com interesse, abaixo podes consultar as datas e durações disponíveis.
Curso 1: No Dia 11 de Cada Mês
- Duração: 7 dias
- Início: A cada dia 11 do mês
- Término: Após o pequeno-almoço no dia 18
Curso 2: No Dia 20 de Cada Mês
- Duração: 7 dias
- Início: A cada dia 20 do mês
- Término: Após o pequeno-almoço no dia 27
Curso de 3 Dias: Na primeira Sexta-feira de Cada Mês
- Duração: 3 dias
- Início: Na primeira sexta-feira de cada mês
- Término: Após um almoço simples no domingo
- Se o teu tempo é limitado, o Curso de 3 Dias é uma excelente alternativa. É uma oportunidade concentrada para aprofundar a tua prática.
Como chegar
Koh Samui é acessível através de voos internacionais e nacionais para o Aeroporto Internacional de Samui ou barco a partir de Surat Thani, Don Sak ou ilhas vizinhas. Partindo de qualquer um dos sítios, podes apanhar um táxi, van ou os famosos minibus vermelhos.
Como o centro de meditação é de difícil acesso, o teu primeiro destino e ponto de encontro é a Dipabhāvan Foundation, perto do Templo Sila Ngu ( Por isso pede que te deixem aqui) . Em frente ao Templo Sila Ngu, existe uma pequena estrada chamada Soi Dipabhāvan que deves seguir por cerca de 300 metros para chegar ao edifício da Dipabhāvan Foundation. A partir da fundação, irão levar-te gratuitamente até ao centro de meditação Dipabhāvakn.
Tem em atenção que tens de chegar até às 15h30 e que não aceitam chegadas tardias.
Se precisares de mais informação contacta o centro ou procura mais na parte de “Travel Information” do site.
O que levar
No centro vais encontrar tudo o que precisas pelo que apenas deves considerar levar o seguinte:
- Roupas folgadas e largas para sete dias. Não é permitido usar camisolas sem mangas ou calções, nem roupas transparentes. O corpo deve estar completamente coberto desde abaixo dos joelhos até acima dos cotovelos.
- Não é necessário vestir roupa branca durante o retiro.
- Chinelos, uma vez que os sapatos têm de ser retirados em todos os edifícios.
- Artigos de higiene pessoal amigos do ambiente, detergente e repelente de mosquitos.
- Toalha e espelho de mão (as intalações não têm um único espelho. Leva apenas se for essencial, porque também é uma experiência interessante)
- Guarda-chuva ou capa de chuva (durante a estação chuvosa).
- Lanterna e pilhas, se for o caso.
Inscrição e preços
Para te inscreveres num dos retiros basta entrares em contacto com o Centro. Para tal, podes, em primeira instância e para esclarecer alguma dúvida, contactá-los através da sua página de facebook.
Se já estiveres convencido podes fazer o registo diretamente no site do centro de meditação.
Quando a valores, não há um preço estabelecido. Seguindo a tradição budista, todas as instruções são oferecidas gratuitamente. No entanto, no final do retiro, se os participantes estiverem dispostos a ajudar o Dipabhāvan e futuros alunos, o centro recolhe doações que também são utilizadas para cobrir os custos de comida, eletricidade, água, gasolina, manutenção das instalações, salário para funcionários tailandeses, etc.
Retiro de 7 dias: Plano Diário
4:30 – Acordar com sinos a tocar: Nos primeiros dias acordava a meio da noite sobressaltada e preocupada se os sinos já tinham tocado e eu não tinha ouvido, mas garanto-vos que não é possível dormir com aquele som.
5:00 – Leitura da manhã: Todas as manhãs um voluntário (que também estava em silêncio) nos lia um texto relacionado com a meditação e o poder da mesma.
5:15 – Meditação sentada: Depois de subir 130 degraus em jejum (sim, conteio-os!) e com uma cara de zombie começava o primeiro momento de meditação. Nos primeiros dias foi aquele momento em que exercitei os músculos do pescoço e dei muitas cabeçadas numa parede imaginária porque o sono se apoderava do meu corpo. Eventualmente nos últimos dias tornou-se mais fácil.
5:30 – Yoga: Uma aula de yoga que começava de noite e acabava de dia. Ver o nascer do sol enquanto tentas de alguma forma acompanhar e realizar todas as difíceis posições do instrutor foi desafiante.
7:00 – Meditação sentada
7:30 – Pequeno almoço: Um pequeno almoço tailandês que era à base de arroz e legumes salteados, ovos cozidos, fruta, pão de forma integral e doce. De realçar que antes de qualquer refeição fazíamos uma reflexão. Esclarecíamos que comíamos não para engordar ou para nos intoxicarmos, mas sim para nos mantermos vivos e saudáveis para poder continuar com a vida espiritual.
7:30 – 9:30 – Tempo livre: O que significava continuar o sono que tinha sido deixado a meio. (Ainda hoje em 2023, sou fã destas sestas a meio do dia, ganhei o hábito aqui)
9:30 – Instruções para meditação: Um monge inglês, com um grande sentido de humor, brindava-nos todas as manhãs com dicas e explicações de como meditar e o que esperar e atingir ao fazê-lo. O objetivo é livrarmo-nos do sofrimento – gerado pelo facto de estarmos presos ao “eu” e “meu. Teremos uma mente mais mindful, clara, completa, livre de problemas e sofrimento e com maior poder de concentração.
Passos para meditação (método curto):
- Desenvolver concentração e contemplar o corpo através da respiração
- Apreciar a efemeridade de tudo
- Deixar ir o sofrimento
10:30 – Meditação a andar: Podíamos percorrer todo o espaço do centro de meditação, que era um pequeno mundo selvagem. O objetivo era estarmos focados e concentrados somente no andar. Tentar mover-nos devagar e sem fazer barulho.
11:00 – Meditação sentada
11:30 – Almoço: Não muito diferente do pequeno almoço, o almoço consistia em arroz, legumes salteados ou cozidos, pratos à base de soja, ovos cozidos, salada e fruta.
11:30 – 14:00 – Tempo livre: O que significava continuar mais uma vez o sono que tinha sido deixado a meio, sempre a meio.
14:00 – Dhamma Talk: O monge inglês falava-nos um pouco do Budismo e os seus principais ideais.
A base do budismo é a lei da natureza, a lei da causa e efeito que se aplica a tudo o que existe no universo. Assim todas as coisas dependem umas das outras. O sofrimento humano (o maior problema) advém do facto de nos agarrarmos e tomarmos como nossas as coisas, sentimentos e o mundo que nos rodeia. Estamos agarradas e presos ao corpo, aos sentimentos, à perceção, pensamento e consciência, que tomamos como nossos. O Budismo desenvolve-se à volta da ideia de que o “eu” e o “meu” são uma ilusão e a base do nosso sofrimento.
16:00 – Meditação a andar
16:30 – Cantar em Pali: Pali é uma língua morta que deu origem ao tailandês – em semelhança ao nosso latim. Os cânticos a Buddha e sobre meditação estão escritos nesta língua e era das minhas partes preferidas, tínhamos livros e cantávamos em conjunto.
17:00 – Meditação Metta: Consiste em desenvolver amor e bondade (loving-kindness) por cada uma das pessoas envolvidas nas 5 categorias seguintes, por esta ordem:
- Eu própria
- Entidade/grupo de pessoas/ instituição que nos ajudou ao longa da vida
- Bom amigo
- Pessoa neutra
- Inimigo
19:30 – Meditação sentada
20:00 – Meditação a andar em grupo: O objetivo era manter a concentração e uma distância constante de 1,5m da pessoa da frente. Andávamos na rua ou no salão de meditação.
21:30 – Luzes apagavam
A minha experiência
- As condições para dormir eram muito diferentes do que estava habituada: camas de madeira, um tapete de verga, uma manta e uma almofada (que era um paralelepípedo de madeira com uma concavidade para a cabeça). O corpo queixou-se, apesar de se habituar ao fim de alguns dias.
- Não ter telemóvel ou internet foi muito difícil no início e fez-me ver o quão dependente sou destes meios de comunicação. (Mais do que atual em 2023)
- Não poder falar foi reconfortante a princípio mas revelou-se uma prisão para mim. No entanto, foi importante porque me apercebi que, por vezes, dizemos coisas sem conteúdo apenas para preencher o silêncio das nossas vidas. (2023: Cada vez gosto mais do meu sossego e do silêncio. Cada vez acho que esta seria uma dificuldade menor se voltasse a ter esta experiência)
- Os mosquitos demonstraram um grande amor por mim e pelas minhas pernas pelo que muitas vezes era difícil concentrar-me e meditar com a incrível comichão.
- A comida era vegetariana e em porções e horários a que não estava habituada. Mas após os primeiros dias o corpo dá uma ajuda e habitua-se.
- Meditar é difícil. O objetivo é focarmo-nos no respirar e não pensar em mais nada para além da nossa respiração. Respiração longa, curta, e com diferentes quantidades de ar. O objetivo é atingir um estado de concentração plena – mindfulness. Como a maioria, a minha mente fugia para tudo e mais alguma coisa que não a respiração. Foi um enorme desafio tentar manter-me focada, principalmente por ter de o fazer durante tanto tempo.
- Na meditação Metta tive especial dificuldade em desenvolver amor e bondade por um “inimigo” mas é algo que continuarei a praticar. (Estamos ainda com dificuldades aqui em 2023, ups!)
- Lidar com pessoas durante muito tempo é difícil. Reparamos em coisas que nos irritam e em hábitos que não gostamos mas temos de aprender a viver com eles, a aceitá-los e eventualmente a gostar deles.
Mas nem tudo são espinhos.



